Laudas Críticas

A torre de marfim e o risco de macaquear o evolucionismo

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Caricatura de Charles Darwin na capa de "La Petite Lune", revista satirica parisiense dos anos 1880.O recente confronto entre criacionistas e o evolucionistas no Brasil está rendendo nos meios de comunicação muitas manifestações que pouco colaboram para um debate de idéias. Mas também têm acontecido algumas interessantes e pedagógicas contraposições de argumentos. Na praticamente absoluta falta de iniciativas acadêmicas para um embate entre os dois lados dessa polêmica, a imprensa, os blogs e outros espaços na internet se tornaram o meio viabilizador para ele.

Ninguém espera que essas discussões cheguem a um consenso. Mas, independentemente da posição de cada um nessa polêmica, para aqueles que se esforçam em manter um mínimo de honestidade intelectual, essa é uma oportunidade para aprender o que é e o que não é válido em questões que envolvem ciência e religião. Além disso, e muito mais importante, é o caso de se considerar o risco de que o persistente afastamento da comunidade científica desse debate público possa levar a reveses maiores do evolucionismo em um período de ascensão de muitas crenças religiosas.

Esse confronto teve início na primeira metade do século XX nos Estados Unidos e teve vários episódios posteriores. Foi reacendido em 30/11 pelo jornalista Marcelo Leite em seu blog Ciência em Dia e sua coluna homônima da Folha de S. Paulo, com a notícia de que o Colégio Presbiteriano Mackenzie, com sedes em São Paulo, Barueri e Brasília, passou a ensinar criacionismo em suas aulas de ciências. O debate ferveu no espaço de comentários daquele blog e também na seção de cartas do jornal, que na seção “Tendências/Debates” apresentou dois artigos de posições contrárias em 06/11, que comentei em “O debate sabotado entre criacionistas e evolucionistas” (07/12).

No dia 08/11, O Estado de S. Paulo agitou mais essa polêmica com a reportagem “Escolas adotam criacionismo em aulas de ciências”, de Simone Iwasso e Giovana Girardi, mostrando que o ensino dessa concepção sobre a vida não se limita ao Mackenzie. No sábado (13/12), o filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. publicou em seu blog o artigo “Deus e o Diabo disputam o ensino Brasileiro?”.

Ainda no sábado, foi a vez do Ministério da Educação, com sua posição de que o criacionismo “pode e deve ser discutido nas aulas de religião, como visão teológica, nunca nas aulas de ciências”. A declaração foi feita pela secretária da Educação Básica do MEC, Maria do Pilar, à reportagem de Fábio Takahashi e Talita Bedinelli, na Folha (“MEC diz que criacionismo não é tema para aula de ciências”, 13/12) [Acréscimo das 10h35]. E, após duas semanas de manifestações sobre o assunto, o “Estadão” de ontem (domingo, 14/12) trouxe as opiniões sobre esse assunto de Roseli Fischmann, professora de filosofia da educação da USP (“Deus não freqüenta laboratório”).

Construção humana

A professora da USP é contra o ensino do criacionismo em aulas de ciências. De todas as afirmações atribuídas a ela na matéria de hoje, a que me pareceu mais importante foi a de que os professores podem ensinar aos alunos que a ciência é fruto da construção humana, e que eles podem participar dessa construção:

Assim se desenvolve nos alunos a possibilidade de questionar, e uma boa dúvida é a pérola do mundo científico. Se, do ponto de vista religioso, existe alguém infalível, isso é para as pessoas que acreditam. Quem acreditar será respeitado por isso, mas não se pode querer que todo o mundo esteja dentro dessa lógica. Ninguém, enfim, ganha misturando as duas frentes porque os cientistas podem pensar que são deuses, e quem fala de Deus pode pensar que é cientista.

Teria sido interessante a professora explicar melhor — e a reportagem a ela perguntar — o que entende por “misturar as duas frentes”, uma vez que outro defensor do evolucionismo, o biólogo e educador Charbel Niño El-Hani, professor da Universidade Federal da Bahia, manifestou-se antes, na Folha, também contra ensinar o criacionismo nas aulas de ciências, mas a favor de discuti-lo com os alunos.

Roseli, que é também coordenadora de projetos de pesquisa da Fundação MacArthur, colaboradora da Unesco e do Ministério das Relações Exteriores, cometeu um engano ao tentar explicar a polêmica em pauta ao recorrer ao pensamento do filósofo da ciência norte-americano Thomas Kuhn (1922-1976), autor do clássico A Estrutura das Revoluções Científicas, de 1962. Nas palavras atribuídas pela reportagem à professora, esse autor teria proposto que

(…) a ciência se constrói historicamente por paradigmas. Com o tempo surgem novas idéias, novas propostas, que vão corroendo essa estrutura até que surja um novo modelo. Aquele vigente nem sempre é tolerante para com as visões mais recentes. O que Kuhn diz é que a classe científica, que justamente por precisar da transformação deveria ser a mais aberta a mudanças, se manifesta muitas vezes resistente. Há egos, interesses financeiros pesados, falta de ética… Mas são as novidades que, em geral, promovem o avanço científico.

Tiros pela culatra

Muitos criacionistas já devem estar festejando essa declaração. A conseqüência da aceitação dessa interpretação seria a de que são válidas quaisquer novas propostas para o evolucionismo, pois elas, em princípio, poderiam promover o avanço científico. Se fosse assim, não haveria razão na própria recusa, defendida por ela, de ensinar o criacionismo como teoria alternativa.

Na verdade, o que Kuhn afirmou é que um “paradigma” (conjunto de compromissos conceituais, metodológicos e instrumentais compartilhados pelos membros de uma especialidade científica durante um determinado período) entra em crise a partir de sucessivas dificuldades e contradições apresentadas por observações e experimentos. Por meio de diversas revisões críticas, são feitas adequações no paradigma, inclusive por meio da redução do campo seu campo de validade. Desse modo, crescem as “anomalias” nos modelos, e, para isso, não são necessárias novas propostas. Nas palavras de Kuhn, as revoluções científicas consistem em “episódios extraordinários” desencadeados por essas dificuldades:

Desse e de outros modos também, a ciência normal freqüentemente se desnorteia. E, quando isso acontece — quando já não se pode mais livrar-se das anomalias que subvertem a prática vigente da prática científica —, começam então as investigações extraordinárias que finalmente levam a profissão a um novo conjunto de compromissos, a uma nova base para a prática da ciência.
(The Structure of the Scientific Revolutions, Chicago University Press, 3ª edição, 1996, p. 6. Não indico a página da edição brasileira, que também uso, porque no momento não a tenho em mãos.)

Tomando como exemplo a astronomia medieval, baseada na tese geocêntrica de  Cláudio Ptolomeu (87-151 d.C.), tantas eram as suas anomalias que no prefácio de sua obra de 1543, Sobre a Revolução dos Corpos Celestes, o astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) disse que a tradição astronômica havia herdado um “monstro”.

Involuntariamente, a declaração da professora é, na verdade, muito mais próxima da posição do pensador austríaco Paul Feyerabend (1924-1994) para o qual a transgressão dos métodos da ciência é necessária para o progresso. “O único princípio que não inibe o progresso é tudo vale [anything goes]”, diz Feyerabend na terceira e última edição de Contra o Método, de 1993 (Tradução de Cezar Augusto Mortari. São Paulo: Editora Unesp, 2007, p. 37). Não é por menos que alguns criacionistas já fizeram uso dessa obra. Na verdade, um uso ingênuo, pois o anarquismo epistemológico desse autor se voltaria também contra a religião, em especial contra o cristianismo, por ele chamada de “sanguinária religião do amor fraternal” na primeira edição desse mesmo livro, de 1975 (Tradução de Octany S. da Mota e Leônidas Hegenberg. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977, p. 433).

Outras oportunidades que têm sido oferecidas “de bandeja” para os argumentos criacionistas vieram de muitas manifestações cientificistas. A maior parte delas consiste em simplórias afirmações de que a seleção natural é “comprovada”, e o texto anterior deste blog (“O debate sabotado…”) já tratou desse assunto. Só faltou dizer que, como nenhuma teoria científica é comprovada, essas afirmações acabam permitindo pesadas e bem-fundamentadas contestações de criacionistas mais sofisticados.

Falseabilidade

Mesmo que pudéssemos considerar o evolucionismo como um paradigma em crise, o criacionismo não é uma formulação teórica passível de refutação, como deve ser toda teoria das ciências empíricas. Aproveitando um comentário meu feito no blog de Marcelo Leite:

A premissa de que uma instância externa conduz o desenvolvimento da vida não é falseável: ela é compatível com o fato de a girafa ter pescoço comprido e, se essa espécie tivesse pescoço curto, seria compatível também. Isso não é ciência da natureza. O evolucionismo pode e deve ser esmiuçado e ter expostos todos os casos de observações e experimentos que o contradizem. Mas enquanto não houver uma proposta de paradigma não evolucionista baseada em premissas falseáveis, não vale a pena abandoná-lo.

Esse é um exemplo de aplicação do critério de falseabilidade do filósofo da ciência austríaco Karl Popper (1902-1994) que apontei na semana passada. Esse é o ponto que me parece estar sendo deixado de lado pelos defensores do criacionismo. Eu o considero o mais frágil dessa concepção, inclusive em sua formulação mais sofisticada, que é o Design Inteligente (DI).

Em meio aos que se manifestaram, fram poucos os que se mostraram atentos para a importância da falseabilidade nesse assunto, entre eles o jornalista Cláudio Weber Abramo, presidente diretor-executivo da Transparência Brasil. Porém, muitos como ele acreditam que esse confronto não passa de um pseudodebate. Mestre em filosofia da ciência, ele afirmou em carta ao “Painel do Leitor” da Folha (08/12) que é um equívoco participar de uma discussão sobre esse tema porque

(…) com isso confere-se respeitabilidade ao misticismo religioso que alimenta o criacionismo quando deveria ser óbvio que é impossível discutir seja o que for com quem acredita em seres incorpóreos e influências etéreas. Da mesma forma que crêem em divindades, anjos, almas e no além, crerão em astrologia, leitura de mão, homeopatia e qualquer outra bobagem que apareça.

Do ponto de vista estritamente epistemológico, o comentário de Abramo pode ser considerado correto. O próprio Kuhn formulou a tese da incomensurabilidade de paradigmas, ou seja, não é possível um efetivo diálogo entre partidários de paradigmas diferentes, uma vez que eles envolvem compromissos distintos e diferentes compartilhamentos de valores.

No entanto, o crescimento de muitas religiões em todo o mundo é apenas uma entre várias razões para crer que, cada vez mais, as decisões sobre a ciência podem escapar do controle dos cientistas, da mesma forma como ela escapou do controle da Igreja bem antes da derrocada do mundo medieval. Em outras palavras, o encastelamento na torre de marfim, com a recusa em participar do debate público nos meios de comunicação, pode ser a maior armadilha que muitos evolucionistas estejam a armar para o próprio evolucionismo.

* * * * * * *

PS — Ao ser reproduzida no Observatório da Imprensa, minha postagem anterior sobre este tema recebeu muitos comentários, entre eles do jornalista Michelson Borges, editor do site Criacionismo.com.br e da Casa Publicadora Brasileira, uma das 56 editoras pertencentes à Igreja Adventista do Sétimo Dia. No primeiro desses comentários, Borges me atribuiu uma “posição equilibrada e não beligerante”. Agradeço pelo elogio, que recebo como um reconhecimento de minha determinação em tentar a todo custo compreender diversos pontos de vista, mas não creio ter uma posição equilibrada. Prefiro a idéia da harmonia por meio do confronto entre os contrários, da forma expressada por Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.), segundo o registro de Aristóteles:

Heráclito diz “a contraposição unifica”, “a mais bela harmonia vem da diferença” e “todas as coisas se originam da discórdia” [éris].
(Ethica Nicomachea, 1155b4-7)*

* Nicomachean Ethics. Texto grego estabelecido por Immanuel Bekker. Introdução, tradução para o inglês e notas de H. Rackham. Cambridge: Harvard University Press (Loeb Classical Library, Aristotle, v. XIX), 2003, págs. 454-455.

PS 2 — Borges contestou em seu blog a posição do MEC contrária ao ensino do criacionismo nas aulas de ciências.

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Written by Mauricio Tuffani

segunda-feira, 15/12/2008 às 7:12

110 Respostas

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  1. A Folha de sábado repercutiu o assunto “MEC diz que criacionismo não é tema para aula de ciências” + opiniões de especialistas e da escola, na editoria Cotidiano. E tb publicou uma tirinha do Angeli (na seção de HQ mesmo), acho que na sexta-feira, sobre criacionismo X evolucionismo! O tema esquentou de novo.

    Alessandra Carvalho - Lain

    segunda-feira, 15/12/2008 at 9:24

  2. Alessandra, obrigado.
    Eu havia esquecido. Acabo de atualizar o texto no trecho imediatamente anterior ao intertítulo “Construção humana”.
    Valeu.
    Maurício Tuffani

    Mauricio Tuffani

    segunda-feira, 15/12/2008 at 9:37

  3. Muito bom Tuffani.
    Ainda acho, entretanto, que a falha na postura “científica” não esteja em não participar de um debate entre criacionismo X evolucionismo, e sim em não divulgar a evolução (e seus enormes debates internos ao redor da idéia principal de Darwin) de uma forma clara. A falha é a de sempre. Falta de uma boa divulgação científica que de alguma forma contribua ao letramento científico da sociedade (desculpa o chavão, mas é isso aí mesmo). Com uma população que recebe boa parte da sua formação na igreja, e com uma comunidade científica omissa, criacionismo e outras idéias fundamentalistas vão ganhar de lavada (como já está acontecendo).
    Apesar dos excessos, ainda concordo (até que alguém me faça, com sólidas evidências, discordar), com a postura de Dawkins e Jay Gould: nesse tema (criacionismo x evolucionismo) há muito pouco que debater. Provavelmente os criacionistas não estejam pensando em “vencer” o debate, e sim apenas em fazer barulho.
    Abraço!

    roelf

    segunda-feira, 15/12/2008 at 10:44

  4. Boa tarde! Por que tanta relutância no ensino da Criação; não Creacionismo, que em muitos lugares tem ligação direta com a política. Mas sim CRIAÇÃO. O porquê da negação em um Deus? O homem, ser tão pequeno e incapaz de solucionar os mais simples problemas da humanidade, como apenas por exemplos: a água; a fome; o desmatamento; as doenças!!!É isso mesmo, quem é o homem para negar a existência de um ser superior a ele. Quem somos nós, afinal???!!! Meros mortais buscando uma constestação para o significado da vida!

    Karin

    segunda-feira, 15/12/2008 at 14:26

  5. Caro Roelf,

    Concordo em parte com você. Também considero necessário ampliar a divulgação do evolucionismo, mas isso não basta. Para o bem e para o mal, a internet quebrou definitivamente o fluxo unilateral da informação. Hoje, qualquer um pode ser emissor. Isso significa que existem espaços midiáticos que podem ser ocupados hegemonicamente por uma corrente de pensamento. A omissão dos defensores do evolucionismo em atuar nessa esfera pode levar ao fortalecimento da imagem deles como incapazes de responder aos argumentos contrários.

    A Igreja Católica foi severamente abalada com a revolução gutenberguiana. OK, ela estava em decadência e estava em curso a ascensão da burguesia mercantil. Não sei se o capitalismo está em decadência, mas o pensamento laico, que foi um de seus principais suportes ideológicos, vem sendo duramente fustigado há algumas décadas. A ciência está na linha de tiro desse avanço, que passou a contar com uma nova revolução na comunicação a partir da internet. Não parece ser nada estratégico deixar desguarnecida essa “frente”, que na verdade vem por todos os lados.

    Está em curso, portanto, uma guerra ideológica, na qual haverá honestidade e desonestidade intelectual de ambos os lados. A educação científica tradicional, que nesse confronto ideológico representa o pensamento laico, só atingirá aqueles que quiserem ser educados ou que puderem ser recrutados. Mas ela pode ser eficaz se for dirigida também à contestação do criacionismo e ocupar os espaços midiáticos disponíveis. Vide o exemplo do Talk of Origins (http://www.talkorigins.org), que merece ser traduzido para vários idiomas. Se não fizer isso, ela estará pregando no deserto.

    Abraço,

    Maurício Tuffani

    Mauricio Tuffani

    segunda-feira, 15/12/2008 at 14:53

  6. Oi,Maurício!

    Cheguei ao teu blog através de um post do blog do Reinaldo Azevedo. Brilhante! Finalmente alguém que entende realmente de ciência tem voz neste debate! E a conclusão no P.S. deste último post é belíssima! Meus parabéns!

    Abraços,
    Mariana

    Mariana

    segunda-feira, 15/12/2008 at 15:50

  7. Caro Maurício.
    Não consigo tirar uma vírgula ao que você coloca. Mas eu questiono apenas o debate formal entre cientistas e criacionistas, e não a necessidade de ocuparmos espaços para defender a cultura da ciência (e explicar como a evolução impacta nossas vidas).
    Participei em dois debates desse tipo (na Europa). Foi frustrante. Os criacionistas vão munidos de um discurso pseudocientífico, entrando em descrições apropriadas (no sentido de apropriação) da biologia molecular e coisas do gênero. Não que os argumentos sejam bons –obviamente não poderiam ser mesmo- mas para refutá-los, o cientista que está no debate deve recorrer também a exemplos no mesmo nível de complexidade. O criacionista não pretende esclarecer, e sim mostrar que é possuidor de conhecimento científico e não um fanático religioso. Como resultado, a platéia sai sem entender nada, os criacionistas gritando (e colocando em sites) que venceram o debate, e os cientistas frustrados porque sabem que o discurso não foi compreendido pela maioria.
    Se um doido ou criador de alguma nova religião quisesse provar que a terra tem a forma de um garfo, e que a esfericidade da terra é um invento, poderia utilizar o discurso -e jargão- científico para convencer muita gente. É só colocar várias pitadas de “mecânica quântica” e percepção neurocientífica. Mas com certeza nenhum geógrafo ou geólogo perderia tempo debatendo com ele. Em relação ao criacionismo, a diferença é que quem defende essa idéia é nada menos que a igreja. Mas o debate tem, em minha opinião, o mesmo nível de absurdo. É claro, que é obrigação nossa ter uma atitude ativa para mostrar como é absurdo. Ficar, como você coloca, na torre de marfim, é a mais irresponsável das atitudes.
    Agora, acho que o melhor site criacionista, é este aqui: http://www.venganza.org/

    roelf

    segunda-feira, 15/12/2008 at 16:10

  8. Está tudo na falseabilidade: se não é a evolução, não há nada que possa tomar seu lugar. Dogmas não são bem-vindos fora da igreja, e não tenho coragem de usá-la com letra maiúscula, nem enquanto Instituição Social.

    Tóin

    segunda-feira, 15/12/2008 at 23:45

  9. “Muitos criacionistas já devem estar festejando essa declaração. A conseqüência da aceitação dessa interpretação seria a de que são válidas quaisquer novas propostas para o evolucionismo, pois elas, em princípio, poderiam promover o avanço científico. Se fosse assim, não haveria razão na própria recusa, defendida por ela, de ensinar o criacionismo como teoria alternativa.”

    A Roseli deixa bem claro em todo o seu artigo que criacionismo não é ciência e não deve ser ensinado como tal, portanto, quem entende que a partir da declaração dela que você reproduziu acima, quaisquer novas propostas (não científicas) são válidas e etc, não interpretou honestamente o que ela escreveu.

    Thomas

    segunda-feira, 15/12/2008 at 23:53

  10. Sr. Thomas, com o devido respeito, o sr. não entendeu nada. Em nenhum momento eu pus em dúvida a posição da professora Roseli Fischmann contrária ao ensino nas escolas de teorias não científicas em lugar do evolucionismo. Minha crítica foi feita à interpretação equivocada, por parte dela, do pensamento de um filósofo da ciência e ao uso dessa mesma interpretação equivocada para ela justificar essa sua posição. E mostrei que o equívoco é tão grande que ela não se deu conta de que sua implicação é o vale-tudo. Em outras palavras, a professora não entendeu corretamente a teoria que citou e o sr. não entendeu o texto que leu.

    Mauricio Tuffani

    terça-feira, 16/12/2008 at 0:22

  11. Maurício,

    Em nenhum momento eu disse, ou deixei subentender, que você pôs em dúvida a posição da Roseli.

    Eu apenas discordo, quando você diz que “A conseqüência da aceitação dessa interpretação seria a de que são válidas quaisquer novas propostas para o evolucionismo”. Ela, naquela citação, que você insiste em desvincular de Kuhn, está se referindo à ciência. Nenhum criacionista vai festejar nada com isso!! A citação da Roseli não dá “espaço” para interpretações falaciosas dos criacionistas e afins. Desculpe, mas você “viajou na maionese”

    Thomas

    terça-feira, 16/12/2008 at 1:34

  12. Sr. Thomas, o seu objetivo parece ser defender a professora Fischmann. O meu foi apenas mostrar uma interpretação inadequada do pensamento de um filósofo da ciência por parte de uma professora de filosofia e a conseqüência lógica dessa interpretação. É assim que funciona em filosofia. Não importa o fato de ela ser contra o criacionismo — e eu também sou — nem importaria se ela fosse a favor. Não faz sentido o sr. prosseguir em sua argumentação sem a análise das afirmações dela e das de Thomas Kuhn, coisa que o sr. não fez em nenhum de seus comentários. Não interessam as intenções da professora nem a interpretação do sr. sobre elas.

    Mauricio Tuffani

    terça-feira, 16/12/2008 at 6:12

  13. Caro Maurício:

    Não creio que seja acertado contrapor evolucionismo e criacionismo como se fossem paradgimas kuhnianos distintos. Independentemente de se subscrever ou não a perspectiva kuhniana, o conceito de paradigma aplica-se a conjuntos de proposições referentes ao mesmo domínio empírico. Não é o caso em questão. Um dos domínios não é empírico, portanto tornando a visada kuhniana inaplicável ao caso.

    Por outro lado, tomo a liberdade de reiterar que um debate no terreno científico com criacionistas não é viável da mesma forma que não seria viável um debate sobre a existência da alma.

    Isso não significa que não deva haver debate, mas no meu entender este não se deve dar no território da empiria, mas no da filosofia, mais especificamente sobre os malefícios do pensamento místico-religioso em relação a tudo na vida. Este, sim, seria um debate importante a ser travado.

    Certa ocasião, Max Planck lamentou-se que apesar de dois mil anos de evolução da ciência, havia na Alemanha mais astrólogos do que astrônomos. Se vivesse hoje, teria ainda mais motivos para lamentar-se. Como você observa, seitas e cultos se multiplicam. Um retrato deprimente do fracasso do processo civilizatório.

    Abraço.

    PS: Obrigado pela promoção, mas não sou presidente da Transparência Brasil, e sim diretor executivo.

    Claudio Weber Abramo

    terça-feira, 16/12/2008 at 9:15

  14. Caro Cláudio,

    Citei a incomensurablidade kuhniana de paradigmas para mostrar a impossibilidade de entendimento, mas isso não implica que considerei o criacionismo um paradigma científico. Considerei-o, nesse caso, como um paradigma no lato sensu do termo, Destaquei, inclusive, que “mesmo que pudéssemos considerar o evolucionismo como um paradigma em crise, o criacionismo não é uma formulação teórica passível de refutação”. Veja no meu texto, por favor, a transcrição de meu comentário postado no blog de Marcelo Leite. Estamos ambos de acordo que o criacionismo não é ciência nem pode ser ensinado como tal em aulas de ciência. A menos que eu esteja enganado, nossa diferença é uma só: eu sou a favor de que o assunto seja apresentado e discutido em aulas de ciência, e você, não. Minhas razões para que haja o debate público sobre o tema estão apresentadas no texto e complementadas em minha resposta ao professor Roelf feita ontem às 2h53 PM.

    Desculpe o engano com seu cargo na TB. Farei a correção.

    Abraço.

    Mauricio Tuffani

    terça-feira, 16/12/2008 at 9:27

  15. Sem entrar no mérito da discussão entre Tuffani e Thomas, acredito que seja oportuno e justo lembrar que a Professora Roseli teve uma atuação destacadíssima ao liderar a oposição ao projeto “Deus na escola”, que, uma vez aprovado pela ALESP (se não me engano, o projeto foi de autoria de uma deputada tucana), iria entrar em vigor ainda este ano. O veto do Governador Serra se deveu, em parte, à ação de liderança da Professora Fischmann. Quero destacar isto pelo fato de, nesta guerra ideológica que o Tuffani menciona, a Professora Roseli é uma das poucas que além de fornecer uma sólida (e honesta) munição acadêmica (independente do seu acerto ou não na citação de Kuhn), toma à iniciativa através de ações bem concretas, que são as que realmente têm o potencial de frear o avanço de doiduras como as colocadas acima.
    Ainda, acho que andamos com muitos “dedos” para abordar e enfrentar este problema. Temos muito medo de enfrentar a igreja. Muitas vezes chamamos os americanos de puritanos, mas eles é que levaram os criacionistas do DI aos tribunais. Lembremos também as palavras finais do juiz (conservador/republicano) John E. Jones III: “É claro que a teoria da evolução de Darwin é imperfeita. Entretanto, o fato de que uma teoria científica ainda não pode oferecer uma explicação para tudo não deveria ser usado como pretexto para empurrar uma hipótese alternativa não-testável, fundamentada na religião, nas salas de aula de ciência ou para distorcer proposições científicas bem estabelecidas. Os cidadãos de Dover foram mal servidos pelos membros do conselho que votaram a favor do ensino do DI. É irônico que vários destes indivíduos, que demonstravam suas convicções religiosas em público com tanto orgulho, mentiram tantas vezes para disfarçar seus rastros e esconder o verdadeiro propósito por trás da decisão a favor do DI.”
    Infelizmente por estas terras não temos esta clareza.

    roelf

    terça-feira, 16/12/2008 at 9:58

  16. Caro Maurício:

    Sim, discordamos quanto à conveniência de se discutir o assunto em sala de aula de ciências. Entendo que isso confere ao criacionismo um estatuto que ele não tem. Esse é o fundo do meu argumento, tanto na carta à Folha quanto no meu comentário anterior (ambos necessariamente brevíssimos).

    Talvez possamos harmonizar as posições pela proposição de que em aulas de ciências seja compulsório discutir os malefícios da religião de modo geral (um pouco ao estilo da “The History of the Warfare of Science and Christendom”, de Andrew Dickson White – White foi embaixador dos EUA na Rússia czarista e presidente da Universidade de Cornell). Aliás, esse é um livro interessante e pouquíssimo conhecido. Existe em versão eletrônica no projeto Gutenberg, que foi onde achei anos atrás. Fica a sugestão aos visitantes do blog.

    Como bem observou Roelf no comentário anterior, nos puritanos EUA essa discussão é muito mais aberta do que nestas paragens assoladas pela complacência.

    Abs.

    Claudio Weber Abramo

    terça-feira, 16/12/2008 at 10:23

  17. De repente, lembrei-me de que, anos atrás, andei escrevendo sobre esse assunto no Observatório da Imprensa. Um sujeito publicou uma crítica à imprensa por esta não levar a sério o design inteligente, eu respondi e o cara treplicou, ao que cometi um artigo contra a liberdade indiscrimada de expressão. Os links, para quem tiver paciência, são:

    Crítica nebulosa ao darwinismo – http://www.observatoriodaimprensa.com.br/ofjor/ofc200199b.htm

    Contra a liberdade indiscriminada de expressão – http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/ofjor/ofc050299a.htm

    Abs.

    Claudio Weber Abramo

    terça-feira, 16/12/2008 at 10:42

  18. Como historiador de ciência em formação, ouso aqui discordar de Claudio Weber Abramo quanto ao valor acadêmico do livro “The History of the Warfare of Science and Christendom”, de Andrew Dickson White.

    Abramo leu o livro e sabe que pelas inúmeras citações feitas por White, aquele autor não teve tempo de digerir todas as fontes citadas.

    Assim como Abramo, eu recomendo a leitura justamente por isso: o propósito de White era idelógico e não científico, e serve muito bem à ideologia atéia de Abramo que, mui confortavelmente se esqueceu que o ateísmo foi responsável por mais de 100 milhões de mortos no século XX.

    Um abraço fraterno.

    Enéio E. de Almeida Filho

    terça-feira, 16/12/2008 at 11:23

  19. Cem milhões? puxa! Será que devo me sentir culpado, comer uma óstia, ou entoar cânticos aos espíritos da floresta?

    De toda forma, opera na observação do sr. Almeida Filho (o qual, segundo seu pé biográfico, é “mestre em estudos bíblicos”) a contrafação de pretender situar uma discussão sobre religião e seus malefícios no terreno ideológico. Ideologias dizem respeito ao ordenamento econômico-social. Crer em espíritos e atribuir-lhes poderes sobre o mundo não tem nada que ver com isso.

    Claudio Weber Abramo

    terça-feira, 16/12/2008 at 13:12

  20. O livro que mencionei no comentário foi: “O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror e Repressão” de Stephane Courtois & Jean-Lo Panne & Nicolas Werth, Editora Bertrand Russell, ISBN: 8528607321

    O sujeito a quem Abramo se refere que publicou artigos no Observatório da Imprensa sobre o tratamento dado ao Design Inteligente pela grande mídia nacional, sou eu.

    Enézio E. de Almeida Filho

    terça-feira, 16/12/2008 at 13:24

  21. Abramo, eu estou em boa companhia. O único título acadêmico que Darwin tinha era um mestrado em teologia. Pe. Lemaitre nos deu o Big Bang. O hábito não faz o monge, oops, o cientista.

    Enézio E. de Almeida Filho

    terça-feira, 16/12/2008 at 13:29

  22. Abramo e Enézio,
    Estou no trabalho, apenas liberando os comentários. Mais tarde entro na parada para criticar os dois. Ainda morro disso. Abraços.

    Mauricio Tuffani

    terça-feira, 16/12/2008 at 13:32

  23. Embora não tenha sido incluído pelo Sr. Enézio na falange ateísta, confundir algo parecido com “ideologia atéia” ao bom senso de não colocar religião nas aulas de ciências, parece um desvio de enfoque. Nesse sentido, o último parágrafo do Juiz Jones que postei acima É irônico que vários destes indivíduos, que demonstravam suas convicções religiosas em público com tanto orgulho, mentiram tantas vezes para disfarçar seus rastros e esconder o verdadeiro propósito por trás da decisão a favor do DI parece extremamente apropriado.
    (O texto completo da decisão do caso Dover está aqui http://www.aclupa.org/downloads/dec20opinion.pdf ; a pequena tradução que coloquei acima é do meu amigo Widson Porto Reis – http://dragaodagaragem.blogspot.com/ )

    roelf

    terça-feira, 16/12/2008 at 14:23

  24. Maurício,

    Em primeiro lugar, a minha argumentação foi feita, sim, com base nas afirmações da professora, de Khun, bem como, nas suas. Não dá para tirar essa tal consequência lógica das afirmações da Roseli. Você está querendo achar pelo em casca de ovo.

    OBS: Afirmar que eu não entendi nada do seu texto é muita presunção da sua parte.

    Thomas

    terça-feira, 16/12/2008 at 15:12

  25. Claudio,

    Boa dica e excelentes as suas intervenções aqui.

    Thomas

    terça-feira, 16/12/2008 at 15:16

  26. O que mais me impressiona neste debate são afirmações como as que encontrei no comentário do Roelf. Vejam:

    “Os criacionistas vão munidos de um discurso pseudocientífico, entrando em descrições apropriadas (no sentido de apropriação) da biologia molecular e coisas do gênero. Não que os argumentos sejam bons –obviamente não poderiam ser mesmo- mas para refutá-los, o cientista que está no debate deve recorrer também a exemplos no mesmo nível de complexidade.”

    Destaque para a afirmação: “Não que os argumentos sejam bons – obviamente não poderiam ser mesmo…”.

    Veja bem: os argumentos NÃO PODERIAM ser bons. Já estão fadados à periferia da existência intelectual, quaisquer que sejam, desde o seu nascedouro. E por qual razão? Ora, porque são teístas! Nada que seja teísta pode ser bom, eis o veredito!

    Essa manifestação particular é sintomática do ânimo (quase) geral da comunidade científica que, ao invés de debater, tenta apenas fechar a questão DESQUALIFICANDO posições contrárias que não compartilham de seu pseudo-ateísmo metodológico.

    O próprio Darwin chegou a afirmar que

    “Se se pudesse demonstrar que existiu algum organismo complexo que possivelmente não tenha sido formado por inúmeras modificações leves e sucessivas, minha teoria entraria em absoluto colapso.” (desculpe a ausência de referência, estou sem o livro no momento)

    Diante disso, se o Michael Behe apresenta em seu trabalho razões que parecem apontar que há, de fato, sistemas irredutivelmente complexos que não podem ter surgido por “inúmeras modificações leves e sucessivas”, o que parece constituir uma grave crítica à macroevolução, por que nem ao menos considerar seus argumentos?

    Segundo o Roelf, os criacionistas fazem muito barulho. Mas se isso é verdade, os evolucionistas não ficam para trás. Esse “debate” (quando assim conduzido me refiro a ele entre parênteses) me lembra o apedrejamento de Estêvão: no meio do seu discurso de defesa, seus acusadores tamparam os ouvidos, começaram a gritar e lhe mataram a pedradas.

    Glauber Ataide

    terça-feira, 16/12/2008 at 16:38

  27. Em meu último comentário, onde está “(quando assim conduzido me refiro a ele entre parênteses)” leia-se “(quando assim conduzido me refiro a ele entre aspas)”.

    Glauber Ataide

    terça-feira, 16/12/2008 at 16:40

  28. Sr. Ataíde:

    É isso mesmo. Argumentos teístas não podem ser levados a sério. Substituamos deidades por gnomos, por exemplo — como o Espírito Santo, trata-se de seres indetectáveis capazes de agir sobre o mundo de modo arbitrário e ao largo das leis da física. Será que a tolerância intelectual que se reivindica para os corpos místicos organizados se estenderia para os gnomos?

    Claudio Weber Abramo

    terça-feira, 16/12/2008 at 17:29

  29. Já que o Sr. Maurício Tufanni apelou para Aristóteles que tal ser imparcial e explicar sua teoria da causa primeira, criadora do mundo?

    Sérgio José Cortez

    terça-feira, 16/12/2008 at 17:38

  30. Glauber, obrigado por comentar meu post. Na realidade não estou certo se eu disse tudo o que você diz que eu disse, mas acho que você está confundindo teísmo com DI. Sobre o Behe e suas “evidências”, aconselho dar uma olhada no link do processo de Dover que coloquei acima. O juiz (teísta) o ouviu durante horas e concluiu o que concluiu. Na realidade, se eu fosse religioso, teria já abandonado esse negócio do DI faz um bom tempo, como fez o Francis Collins (“Yes, evolution by descent from a common ancestor is clearly true. If there was any lingering doubt about the evidence from the fossil record, the study of DNA provides the strongest possible proof of our relatedness to all other living things.”).

    roelf

    terça-feira, 16/12/2008 at 18:07

  31. Somente agora tive a paciência de dar uma olhada a todos os links colocados pelo Tuffani no início deste tópico. Me chamou a atenção esta informação:
    “O criacionismo é ensinado no Colégio Presbiteriano Mackenzie desde 1870, quando a instituição foi fundada.
    O conteúdo é abordado no sexto ano do fundamental –para crianças com idade por volta dos 11 anos–, assim como a teoria evolucionista.
    Neste ano, no entanto, o colégio passou a adotar um novo material nos três primeiros anos do ensino fundamental. São apostilas com conteúdos didáticos convencionais, onde há a explicação criacionista, mas sem a teoria evolucionista.
    Segundo o colégio, nessa idade (por volta dos oito anos) os alunos não estão preparados para aprender o darwinismo. O colégio anunciou que alterará o conteúdo das apostilas, abrandando o caráter religioso, mas manterá o criacionismo.

    Isto é um crime. É apenas revoltante. Pegam crianças com cérebro em formação, preparadas biologicamente para aceitar tudo o que o adulto diz sem questionamento, para fazer esse tipo de lavagem cerebral, de forma a ter adultos já prontos para engrossar as fileiras fundamentalistas. Em que difere das madraçais? Ante estes fatos, não há debate possível. Uma sociedade minimamente séria e comprometida, com o conhecimento neurobiológico do qual hoje dispomos, proibiria isto imediatamente. Mas aqui não sei… Dias atrás li que um grupo de juízes e promotores estava pleiteando o direito de aceitar confissões psicografadas como prova. Se chegamos ao ponto de nosso sistema judicial tomar depoimento do morto, o que importa uma lavagem cerebral a mais ou a menos?

    roelf

    terça-feira, 16/12/2008 at 20:37

  32. Prezado Sr. Sérgio José Cortez,

    Em Aristóteles, a teoria da causalidade, que é tratada principalmente na Metafísica e na Física, nâo tem nada a ver com a criação do mundo.

    Em seu livro Sobre o Céu (Livro B, Capítulo 1, 283b26-29), o pensador macedônico afirmou explicitamente que “o mundo certamente não foi gerado nem pode ser destruído, como alguns alegam, é único e eterno, não tem começo nem fim em sua extensão e contém o tempo infinito” (Ὅτι μὲν οὖν οὔτε γέγονεν ὁ πᾶς οὐρανὸς οὔτ’ ἐνδέχεται φθαρῆναι, καθάπερ τινές φασιν αὐτόν, ἀλλ’ ἔστιν εἷς καὶ ἀΐδιος, ἀρχὴν μὲν καὶ τελευτὴν οὐκ ἔχων τοῦ παντὸς αἰῶνος, ἔχων δὲ καὶ περιέχων ἐν αὑτῷ τὸν ἄπειρον χρόνον). [On the Heavens. Texto grego estabelecido por Immanuel Bekker. Tradução de William Guthrie. Cambridge: Harvard University Press (Loeb Classical Library, Aristotle, vol. VI), 1934, pp. 130-131.]

    Aliás, na metafísica platônica, nem mesmo o Demiurgo proposto por Platão no Timeu (53b) foi apontado como criador do mundo, que, segundo ele também, sempre existiu. Comentei isso na semana passada em “O sabotado debate entre criacionsitas e evolucionistas” (07/12)..

    Mauricio Tuffani

    quarta-feira, 17/12/2008 at 4:09

  33. Caros Abramo, Roelf e Enézio,

    Fiquem à vontade para expressar suas opiniões. Mas, tendo em vista o privilégio da presença de três debatedores qualificados como vocês, sem falar no Glauber, por quem também tenho grande respeito, acho pouco produtivo prosseguirmos tanto com a contabilidade de cadáveres obtidos por execuções sumárias, assim como com as considerações em torno da fé. Essa discussão valeria a pena se tomasse o caminho de algo parecido com o célebre debate radiofônico sobre a existência de Deus e o argumento da contingência, realizado na BBC, em 1948, entre Bertrand Russell e o bispo católico Frederick C. Copleston (http://www.ditext.com/russell/debate.html), que posteriormente o primeiro transcreveu em seu livro Por que não Sou Cristão.

    Não sou religioso nem adepto do criacionismo ou do Design Inteligente, mas também procuro não ser defensor do evolucionismo por princípio, pois tento ser mais um homem da filosofia do que da ciência. Mas não posso negar minha preferência pelo darwinismo, que não se deve a meu “ateísmo”, mas ao fato de entender que uma teoria científica deve se basear em axiomas dos quais só se podem deduzir proposições falseáveis.

    Que tal aproveitarmos para nossas presenças neste espaço, protegido, por minha discricionariedade como moderador, contra os hidrófobos que tumultuam as discussões na web? Além do mais, temos neste site uma audiência qualificada. Nas últimas 24 horas este blog recebeu visitantes da USP, Unicamp, Unesp, UFMG, UFSC, State University Of New York at Stony Brook, University of Tokyo, Universitá Della Svizzera Italiana, Yale University, sem falar nas visitas cujas probabilidades de serem acadêmicas são grandes, por meio de provedores comuns de localidades como Cambridge (Massachusetts), Bethesda (Maryland) e outras.

    Não chegaremos certamente a um consenso, nem precisamos disso. Aliás, nem Russell e Copleston chegaram a um acordo em sua discussão. Mas podemos pelo menos deixar mais claro para todos o que cada um entende ser válido e não válido em um debate sobre este tema. Ou seja, podemos pelo menos chegar a uma concordância sobre nossa diferenças.

    Permitam-me, por favor, colocar algumas questões para que tenhamos alguns pontos de partida mais concretos.

    Especificamente a Enézio: que tal nos apontar o que considera ser uma refutação de algum dos pressupostos básicos do darwinismo?

    A Enézio e Glauber: Pode ser considerada científica uma teoria relativa aos fenômenos da natureza que tem como pressuposto básico a condução dos processos naturais por meio de uma exterioridade?

    A Abramo e Roelf: Pode ser desprezado o fato de haver uma dissidência na comunidade científica em relação ao evolucionismo (ver “A scientific dissent from darwinism”), cuja extensão ainda não parece ter sido avaliada?

    O que vocês acham?

    Abraços a todos.

    Mauricio Tuffani

    quarta-feira, 17/12/2008 at 5:09

  34. Pessoa que se apresenta com o nome “Thomas”,

    Em primeiro lugar, meu texto não faz uma mera afirmação de que a intepretação de Kuhn pela professora Roseli Fischmann tem como conseqüência o vale-tudo feyrabendiano. Eu apresentei uma argumentação. Ela pode ser contestada no mérito, mas nunca por meio de uma simples recusa, como fez o(a) sr(a). até agora. Dá para entender isso? Precisa mostrar o suposto equívoco nos meus argumentos.

    Em segundo lugar, eu não disse que o(a) sr(a). não entendeu nada de meu texto, mas dessa argumentação acima referida. Presunção demonstra o(a) sr(a). ao não provar o que afirma e me acusar de desonestidade intelectual.

    E finalmente, por falar em desonestidade, indique um endereço eletrônico verdadeiro se vier a se manifestar novamente neste blog, pois o e-mail que o(a) sr(a). registra ao enviar seus comentários é falso, como mostra a resposta abaixo à minha mensagem de teste.

    ————————————————————————-
    This is an automatically generated Delivery Status Notification

    Delivery to the following recipient failed permanently:

    thomas@tomas.com

    Technical details of permanent failure:
    Google tried to deliver your message, but it was rejected by the recipient domain. We recommend contacting the other email provider for further information about the cause of this error. The error that the other server returned was: 554 554 5.7.1 : Recipient address rejected: user thomas@tomas.com does not exist (state 14).

    —– Original message —–

    Received: by 10.103.5.14 with SMTP id h14mr187918mui.108.1229508751799;
    Wed, 17 Dec 2008 02:12:31 -0800 (PST)
    Received: by 10.103.170.13 with HTTP; Wed, 17 Dec 2008 02:12:31 -0800 (PST)
    Message-ID:
    Date: Wed, 17 Dec 2008 08:12:31 -0200
    From: “Laudas Criticas”
    To: thomas@tomas.com
    Subject: Teste de origem
    MIME-Version: 1.0
    Content-Type: text/plain; charset=ISO-8859-1
    Content-Transfer-Encoding: quoted-printable
    Content-Disposition: inline
    X-Google-Sender-Auth: 8076427fa54bde5c

    Mauricio Tuffani

    quarta-feira, 17/12/2008 at 7:18

  35. Caro Tuffani:

    1. Uma disciplina que não admite contestação não pode almejar estatuto de ciência. O aparecimento de dissidências em relação ao corpus das disciplinas é parte preponderante de sua reivindicação de cientificidade. Contestações a respeito de teorias são discutidas no seio das disciplinas e em suas áreas próximas, como este espaço. Contudo, não vi nenhuma referência aqui a alguma proposição tecnicamente situável no terreno próprio da biologia ou do evolucionismo.

    2. Não intervi aqui para defender a evolução darwiniana, mas para combater a interferência de misticismos de forma geral na vida, a qual, por sua vez, abrange o empreendimento científico. Entendi que você não considera apropriado discutir aqui essa questão. Como me parece que esse é o assunto do pseudodebate do criacionismo, há aí uma discordância que me parece intransponível. Como o espaço é seu, retiro-me.

    Um abraço,

    Claudio

    Claudio Weber Abramo

    quarta-feira, 17/12/2008 at 7:56

  36. Caro Abramo,

    Repare, por favor, na primeira frase do meu comentário ao qual você se refere:

    Fiquem à vontade para expressar suas opiniões.

    Repare, também, por favor, no meu explícito tom de sugestão de encaminhamento de questões. Eu disse, de fato, que considero pouco produtivo insistir em questões de fé. Mas em nenhum momento afirmei que essas questões não são permitidas neste blog.

    No que se refere a considerarmos alguma “proposição tecnicamente situável no terreno próprio da biologia ou do evolucionismo”, é justamente em função disso que formulei a pergunta específica ao Enézio.

    Desse modo, na certeza de ter sido descartada a possibilidade dessa interpretação, manifesto explicitamente que sua participação tem sido condizente com a linha deste blog, como era de se esperar de uma pessoa com a sua trajetória.

    Abraço,

    Maurício Tuffani

    Mauricio Tuffani

    quarta-feira, 17/12/2008 at 7:59

  37. Atenção,

    Este blog não admite calúnia, injúria nem difamação, que são crimes previstos no Código Penal.

    Alguns leitores enviaram comentários ofensivos a terceiros que supostamente seriam os remetentes das manifestações aqui postadas pela pessoa que usou o nome “Thomas“.

    Mensagens como essas serão sumariamente rejeitadas.

    Mauricio Tuffani

    quarta-feira, 17/12/2008 at 8:29

  38. Caro Tuffani:

    Queria dissipar a impressão de algum desagrado. Não ocorreu. É só que acredito (como escrevi na carta à Folha que você citou) que o “debate” sobre criacionismo fica mal posto se a questão de fundo (a fé religiosa e suas interferências) for deixada de lado. Discutir criacionismo como se fosse coisa séria não dá pé. Caso se afirme que dá pé, por que então não discutir astrologia e leitura de mãos em sala de aula? A justificativa seria a mesma.

    Claudio Weber Abramo

    quarta-feira, 17/12/2008 at 8:52

  39. Repetindo um comentário que fiz num post do Stoa, Criacionismo x Evolucionismo: Uma discussão superada, descobri recentemente, lendo ‘Deus, um delírio‘, do Dawkins, sobre um interessante centro dos EUA, o National Center for Science Education, comandado por Eugenie Scott. Há muitas referências boas na página desse centro, como os textos disponíveis on-line sobre Evolution: Education and Outreach.

    Eugenie Scott também é autor do livro Evolution vs. Creationism: An Introduction, que me pareceu interessante pela descrição.

    Deveríamos ter mais iniciativas dessa natureza no Brasil.

    Se algum dia for obrigatório o ensino religioso em escolas públicas brasileiras, mudo de país, se perceber que será muito difícil modificar tamanha tragédia.

    Num colégio privado, não há o que fazer. Não sou contra o ensino religioso. Apenas temo pela saúde mental das crianças.

    Esses dias jantando com alguns amigos físicos, estava à mesa o filho de um professor do IFUSP. No colégio dele ensinam religião. O rapaz fez um trabalho sobre o monstro de espaguete voador e tirou um ‘C-‘. :-D

    Não vi uma pessoa esclarecida que estudou religião em colégios religiosos, em que as disciplinas não tendiam para a doutrina vigente no local. O que não é nenhum espanto.

    Tom

    quarta-feira, 17/12/2008 at 9:44

  40. Maurício,

    1) A falseabilidade é um princípio epistêmico auto-refutável. Se aplicado a si mesmo, ele próprio não é falseável.

    2) Minha posição não é que os processos naturais são conduzidos por alguma exterioridade. O que as evidências parecem apontar é que as espécies têm um limite genético de modificações, e essas modificações são totalmente naturais. Há evolução, mas dentro das espécies.

    A dificuldade do naturalismo ateísta é explicar a macroevolução. As evidências apontadas pelos evolucionistas para suportar a macroevolução só convencem quem já está convencido. Um exemplo de experimento (conduzido por MACROEVOLUCIONISTAS, diga-se de passagem) que parece mostrar que as espécies têm limites para suas alterações é a da drosófila, que por mais de 75 anos, continua sendo o que sempre foi: uma mosca-das-frutas.

    3) Minha posição é que houve uma inteligência inicial que forneceu informações ao código genético das espécies, e não que há uma entidade agindo o tempo todo na história determinando qualquer evento.

    4) Desconsiderando a inconsistência do princípio de falseabilidade que apontei no item 1), veja a seguinte citação do Michael Behe sobre o fato do DI ser falseável ou não. Ele acha que, ao contrário, o evolucionismo é menos falseável que o DI.

    “A Academia Nacional de Ciências [Americana] afirmou que o design inteligente não é falseável, e eu acho que isso é justamente o oposto da verdade. O design inteligente é bastante sujeito à falsificação. Eu alego, por exemplo, que o flagelo bacteriano [estrutura bacteriana utilizada para a locomoção] não pode ser produzido pela seleção natural; ele precisa ter sido propositadamente projetado. Bem, tudo o que um cientista tem de fazer para provar que eu estou errado é pegar uma bactéria sem flagelo, ou eliminar os genes que codificam o flagelo de uma bactéria, ir para o seu laboratório, cultivar o micróbio por um longo período, e ver se ele produz alguma coisa que se assemelhe a um flagelo. Se isso tiver acontecido, o design inteligente, da forma como eu o entendo, terá sido nocauteado. Eu certamente não espero que isso aconteça, mas [o design inteligente] é facilmente falseável por uma série de experimentos como esse.

    Agora nos voltemos para o outro lado e perguntemos: Como podemos falsear a afirmação de que foi a seleção natural que produziu o flagelo bacteriano? Se esse mesmo cientista fosse para o laboratório e eliminasse os genes do flagelo, cultivasse a bactéria por um longo período, e nada acontecesse, bem, ele diria que talvez não tivesse começado com a bactéria certa, talvez não tenha esperado tempo suficiente, talvez precisasse de uma população maior, e então seria muito mais difícil falsear a hipótese Darwiniana.

    Eu acho que o oposto é que é verdade. Eu acho que o design inteligente é facilmente testável e falseável, embora não tenha sido falseado, e o Darwinismo é muito resistente a ser falseado. Eles podem sempre alegar que alguma coisa não estava bem.”

    5) Sobre o comentário do sr. Abramo, essa identificação de uma causa primeira do universo, tal como concebida por Aristóteles ou pelo teísmo cristão, com seres mitológicos e duendes ou gnomos, não passa de uma falácia de falsa analogia, que considera haver uma identificação total entre os objetos comparados apenas por causa de semelhanças superficiais.

    Glauber Ataide

    quarta-feira, 17/12/2008 at 10:43

  41. Apenas para citar a fonte do comentário do Behe que reproduzi em meu último post, no original em inglês:

    http://www.uncommondescent.com/intelligent-design/michael-behe-on-falsification/

    Glauber Ataide

    quarta-feira, 17/12/2008 at 10:49

  42. Maurício,

    Aceito o convite, e seja o que Darwin quiser!

    Abraço fraterno,

    Enézio

    Enézio E. de Almeida Filho

    quarta-feira, 17/12/2008 at 11:41

  43. Olá Glauber,

    Boa retomada. Vamos por partes.

    1) Não tem sentido dizer que o critério de falseabilidade é ou não é falseável. Do ponto de vista estritamente lógico, ele se resume a verificar se um enunciado de primeira ordem (predicado que se aplica a objetos) é universal, ou seja se ele tem a forma

    “para todo objeto ou fenômeno x, vale o predicado P(x)“.

    Se o enunciado tem esse fomato, ele é falseável. Ele se torna verdadeiro caso a caso, à medida que se identificam objetos x1, x2, x3, …, xn que satisfazem ao predicado P(x). Mas não é possível dizer que ele é universalmente verdadeiro, pois isso exigiria testá-lo infinitamente. Ele não é, portanto, comprovado por x1, x2, x3, …, xn, mas corroborado por esses n objetos. Sempre haverá a possibilidade de um objeto ou fenômeno para o qual não seja verdadeiro esse predicado.

    Não há como aplicar essa verificação ao próprio critério de falseabilidade, mesmo com o cálculo de predicados de segunda ordem (predicados que se aplicam a predicados).

    Resumindo: A falseabilidade no sentido popperiano se aplica apenas a predicados de primeira ordem.

    (Obs. O predicado falseável pode ter também o formato “não existe objeto ou fenômeno x para o qual vale o predicado P(x)“, que também é um enunciado universal.)

    2) Comento depois.

    3) Comento depois

    4) O que Behe propõe me pareceu ser testar a seleção natural com a mera eliminação de genes geradores dos flagelos sem qualquer simulação de alterações ambientais que beneficiaria determinadas mutações. Não seria mais correto submeter diversas culturas de idênticas espécies de seres unicelulares a diferentes condições ambientais?

    5) Concordo.

    Abraço.

    Maurício Tuffani

    Mauricio Tuffani

    quinta-feira, 18/12/2008 at 8:00

  44. Francis Collins ”Yes, evolution by descent from a common ancestor is clearly true. If there was any lingering doubt about the evidence from the fossil record, the study of DNA provides the strongest possible proof of our relatedness to all other living things.”).
    Recoloco esta frase do Francis Collins, pelo fato de ser ele cientista e crente (um dos grandes cientistas que faz parte dos 8% que acreditam em Deus). Em seu último livro, acaba com o DI (mas abraça outra inconsistência: a TE).
    Recoloco também porque ele cita o registro fóssil e o DNA, mas eu acrescentaria a análise comparativa dos cérebros e, fundamentalmente, as áreas filogeneticamente mais recentes, como o córtex cerebral. É um capítulo maravilhoso do processo evolutivo. Mas deixa prá lá. Abraço a posição do Dawkins e o Gould. Debater DI como ciência não é possível mesmo. Mesmo por que teríamos que ter uma teoria falseável sobre quem desenhou o desenhista.

    (Maurício, pode , se quiser, linkar meu nome ao lattes para não parecer que sou um ente misterioso (rsrs))

    roelf

    quinta-feira, 18/12/2008 at 10:37

  45. Maurício : Quando você referiu-se a “algumas interessantes e pedagógicas contraposições de argumentos” sobre o assunto, e ao blog do Marcelo Leite (http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br/arch2008-11-30_2008-12-06.html#2008_12-01_21_54_24-129493890-26), visitei hoje (18/12) o blog do Marcelo Leite e verifiquei que existe uma pessoa (Mario B.M. Giacomelli) que praticamente está “jantando” todos os participantes do blog com argumentos e referências em prol da existência de Deus. (em coments, declarou que não se considera Criacionista, nem como explicação científica), porém despeja uma quantidade enorme de dados, artigos e referências (de próprios evolucionistas) sobre as improbabilidades da emergência de vida via Coacervado Orgânico,entre outras questões. Inclusive hoje, quando um participante do blog do ML (a meu ver), foi infeliz ao pedir a ele dados e sugerir que a informação dele era “curiosa” e sem embasamento sobre uma questão óbvia da Química (solubilidade da água), ele praticamente pasou “com um rolocompressor” por cima de seu oponente. O irônico nisso tudo, Maurício, é que ele é um biólogo italiano… Existem cientistas independentes, que não aceitam nem a Evolução, nem o Criacionismo, mas crêem em Deus?

    Valmir Nunes

    quinta-feira, 18/12/2008 at 12:07

  46. Valmir, também fiquei espantado com esse Mario Giacomelli, até queria entrevistá-lo para meu blog. Mas o único com esse nome que eu acho no Google é um fotógrafo morto há alguns anos…

    Marcio Antonio

    quinta-feira, 18/12/2008 at 13:41

  47. Mauricio

    Parabéns pelo blog! Muito bom. Cheguei aqui por referências de outros blogs (Tubo de Ensaio, Deus lo vult e o Reinaldo de Azevedo). Pretendo antes de tudo aproveitar a sua boa vontade e a de outros para aprender alguma coisa. Queria, primeiro, pedir-lhe alguns esclarecimentos sobre o seu texto inicial:

    1) Você fala que não vale a pena abandonar a teoria da evolução até que haja uma proposta de paradigma não evolucionista. Imagino que isso valha para qualquer teoria científica e, por isso, fiquei com a dúvida se o abandono de uma dada teoria somente deva ocorrer quando haja outra que possa substituí-la adequadamente ou se é possível simplesmente aceitar que há um campo dos fenômenos para os quais não há ainda uma teoria explicativa adequada. Se a segunda hipótese for possível, porque não poderíamos abandonar a Teoria da Evolução antes de ter outro paradigma? (Apenas esclareço que sou católico e aceito totalmente a teoria da evolução e não me parece razoável esperar que ela seja contradita).

    2) Quando você comenta Feyerabend fala que sua tese é: “O único princípio que não inibe o progresso é ‘anything goes'”. Minha dúvida é: quão aceita é essa tese hoje nos meios científicos e saber se esse “tudo vale” de Feyerabend aplica-se também à total ausência de restrições éticas à pesquisa científica.

    3) Um esclarecimento sobre algo que pareceu recorrente em alguns comentários é que a teoria da evolução não é – de modo algum – incompatível com a doutrina da Igreja Católica e nem nunca foi rejeitada por ela. Inclusive há um excelente texto de Ratzinger em que analisa e explica essa compatibilidade. Portanto, ninguém nesse debate está “lutando” contra a Igreja (ao menos a Católica).

    4)Parabéns a você e ao Roelf pela forma elegante e respeitosa como se abrem ao diálogo com os que pensam ou crêem em coisas diferentes.

    5) Sobre a questão do ensino do criacionismo em aulas de ciência, acompanho a tese do prof. Chabel de que não deve ser ensinado como teoria científica mas que seja citado ou debatido como uma teoria não-científica do mundo (no mínimo isso seria falar de história da ciência, pois até Darwin era o comumentemente aceito até em livros acadêmicos)

    6) Não há , a seu ver, uma confusão de termos entre criacionismo e fixismo? O que é incompatível com a teoria da evolução é o fixismo e não a criação a partir do nada.

    7) Gostaria, por fim, de perguntar se a descoberta noticiada na Folha de SP, no dia 16 desse mês, de que um “gene egoísta” pode subdividir uma espécie de mosca em duas pode “reforçar” a argumentação pró ou contra criacionista.

    Abraços e perdoe-me pelo extenso do post,

    Lampedusa

    Lampedusa

    quinta-feira, 18/12/2008 at 14:03

  48. Caro Valmir,

    As avaliações sobre o desempenho de debatedores dependem muito de quem avalia. E a atuação de muitos debatedores é geralmente muito mais direcionada para aqueles que compartilham suas próprias idéias do que para a contraposição ponto a ponto dos argumentos contrários. Em outras palavras, quase todos os debatedores, independentemente de que lado estejam, têm em mente muito mais suas próprias platéias do que seus oponentes, inclusive quando se dirigem a eles. O confronto de idéias é muito difícil de acontecer.

    O mesmo acontece no espaço de comentários a esse texto de Marcelo Leite. E isso vale para quase todos os participantes, e dos dois lados.

    Não concordo com sua afirmação de que Giacomelli “praticamente está ‘jantando’ todos os participantes do blog com argumentos e referências em prol da existência de Deus”. Estou fora desse cardápio. Eu o questionei respeitosamente, e ele me ignorou, assim como fez também com o debatedor Araújo. Devemos ter parecido indigestos para ele.

    Os argumentos de Giacomelli são interessantes e instigantes. Mas não provam nada. Merecem ser considerados e devem ser tomados como pontos de partida, mas não como conclusões. Aliás, não me parece que ele tenha outra pretensão. No entanto, não gostei da forma como ele os apresenta. Em primeiro lugar, por serem muitos comentários desnecessariamente fragmentados, dificultando o seu acompanhamento, ainda mais na ordem inversa. E também por ele desconsiderar contestações. Resumindo: Giacomelli é um excelente argumentador, mas não se mostrou um bom debatedor. Como diz Norberto Bobbio,

    Não basta conversar para empreender um diálogo. Nem sempre aqueles que falam uns com os outros falam de fato entre si: cada um fala consigo mesmo ou com a platéia que o escuta.
    (Norberto Bobbio. O Tempo da Memória: De Senectute e outros ensaios autobiográficos. Tradução de Daniela Versiani. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1997, p. 10.)

    Não sou religioso, não apóio o criacionismo nem o DI, mas também não defendo o evolucionismo (que aceito por falta de alternativa melhor). Mas tento defender tanto o evolucionismo como o criacionismo e a religião de afirmações que considero inválidas ou falsas.

    Abraço,

    Maurício Tuffani

    Mauricio Tuffani

    quinta-feira, 18/12/2008 at 16:53

  49. Caro Lampedusa,

    Obrigado por seu comentário sobre o blog. Vamos às suas questões.

    1) Em primeiro lugar, peço, por favor, atenção ao que eu disse, que foi “proposta de paradigma não evolucionista baseada em premissas falseáveis“, e não qualquer proposta. (Ver meus comentários sobre falseabilidade na resposta a Glauber.)

    Repare também uma sutileza minha que eu não deveria ter deixado acontecer, pois induz o leitor em erro. Eu não disse que devemos abandonar o evolucionismo se um dia houver uma proposta de paradigma não evolucionista baseada em premissas falseáveis. Eu disse que não devemos fazer antes disso. Em outras palavras, se essa formulacão teórica vier um dia a ocorrer, poderemos começar a pensar em abandonar o evolucionismo, mas não necessariamente abandoná-lo.

    Nesse ponto, eu fecho com Thomas Kuhn. Ele não diz quando deve ser abandonado um paradigma, mas quais são as condições necessárias para isso. Suponhamos que sejam válidas todas as contestações do DI ao evolucionismo. Isso não implica que ele deva ser abandonado. É preciso que haja uma alternativa elaborada. Não se abandona um paradigma sem que haja outro (e, na minha opinião, não pode ser o DI). A aceitação do novo paradigma depende de ele explicar tudo o que o anterior explica e também suas anomalias. Essas são as condições necessárias. Mas não são suficientes, pois a mudança de paradigma depende da aceitação pela maioria da comunidade de especialistas da área.

    2) O anything goes de Feyerabend não implica ser antiético. Trata-se, na verdade, de transgredir os pressupostos das ciências. A visão dele é pouquíssimo aceita na comunidade científica em geral. Na verdade, a comunidade científica em geral não é muito chegada à filosofia da ciência. Muitos pesquisadores excelentes têm uma visão pré-carnapiana da ciência. E creio que não há como ser de outro modo, pois isso não muda o dia-a-dia deles. As grandes discussões sobre os fundamentos da ciência não acontecem durante o que Kuhn chama de ciência normal, mas durante a ciência em crise (ver no texto a citação a Kuhn).

    3) Concordo.

    4) Obrigado, novamente.

    5) Concordo. Ressalte-se que Cláudio Weber Abramo não está mais presente a este debate. [Acréscimo de 19/12/2008 às 6h30.]

    6) Há muitas visões diferentes sob o rótulo criacionismo. Mas nem todas elas são fixistas. O ponto central da discórdia entre todo o criacionismo e evolucionismo é a seleção natural, ou seja, Deus é desnecessário.

    7) Parece-me que ela reforça o darwinismo.

    Abraço,

    Maurício Tuffani

    Mauricio Tuffani

    quinta-feira, 18/12/2008 at 17:58

  50. Olá Maurício,

    Então vamos lá. Vou enumerar as questões apenas para facilitar as referências.

    1) O critério de falseabilidade é um enunciado de filosofia da ciência. Ele não é propriamente um enunciado científico, e acho importante frisar essa distinção. Vamos então tratar a questão como filosófica, epistemológica, pois ela diz respeito a como se alcançar conhecimento.

    O critério de falseabilidade deve ser aplicado a asserções para verificar se elas podem ser falseadas. Então, se temos a proposição categórica “todo cisne é branco”, sabemos que essa proposição é falseável pois pode ser demonstrada falsa pela experiência, ao se demonstrar que existe pelo menos um cisne preto, ou amarelo, ou azul, etc.

    Mas como esse critério visa testar proposições com algum valor epistêmico, que podemos chamar de VE, vamos aplicar uma paráfrase e deixá-lo na seguinte forma:

    “Toda proposição deve ser falseável para assegurar VE”.

    Vamos chamar a proposição acima de F. Agora, veja onde chegamos se tentarmos aplicá-la sobre si mesma:

    “F deve ser falseável para assegurar VE”.

    E então? Essa proposição é ela mesma falseável para que seja de algum valor epistêmico? Eis a questão.

    2) Quanto à crítica do Behe sobre a falseabilidade da seleção natural, creio que todo esse processo de submeter diversas culturas a diferentes condições ambientais está incluída no que ele quis dizer por “cultivar”, mesmo porque ele fala mais à frente sobre uma “população maior”. Ele devia estar pensando sobre isso.

    Mas creio ser isso irrelevante para o argumento. O ponto principal consiste em desafiar os evolucionistas a tentarem falsear a afirmação de que o flagelo bacteriano foi produzido pela seleção natural.

    Glauber Ataide

    quinta-feira, 18/12/2008 at 18:09

  51. Caro Glauber, vamos nessa.

    1) Daria para simplificar mais sua formulação. Em vez de “Toda proposição deve ser falseável para assegurar VE”, podemos usar “Toda proposição falseável assegura VE”.

    Digo “daria” porque a questão é outra. A proposição é uma tautologia, pois não há como verificar “valor epistêmico” por outro meio que não a própria forma universal do enunciado, que é o que define a falseabilidade. Você tem alguma outra alternativa para fazer essa verificação?

    2) Discordo. Partindo do pressuposto que não há outras variáveis envolvidas na eliminação de determinados genes, é muita transigência inferir que ele pressupôs diferentes condições ambientais para as culturas de bactérias. Essa experiência foi feita? Por quanto tempo? Sob quais condições?

    Mauricio Tuffani

    quinta-feira, 18/12/2008 at 23:22

  52. Caro Roelf,

    O desenvolvimento do córtex cerebral é realmente um dos pontos essenciais. Bem lembrado. Independentemente do que podemos corroborar, acho razoável pressupor que sempre haverá transições não explicadas, e que isso é aceitável. Por outro lado, já que eu e o Glauber falamos em bactérias, vale lembrar a íntima relação de causa e efeito entre os sucessivos aumentos da resistência desses microorganismos e o amplo uso de antibióticos, que precisam ser cada vez mais potentes.

    Quanto à certificação de sua existência como pessoa natural (http://lattes.cnpq.br/1493560562521489), eu acolheria seus comentários mesmo que não o conhecesse pessoalmente.

    O problema não é quem diz, mas o que diz. Um argumento válido é válido mesmo que tenha sido proferido por Mussolini, Pol Pot ou por algum ser ectoplásmico. Só me incomodei com a pessoa que usou o nome Thomas porque ela batia sempre na mesma tecla e porque o endereço de e-mail informado era estranho.

    Mauricio Tuffani

    quinta-feira, 18/12/2008 at 23:58

  53. Olá, novamente, Maurício. Gostaria de agradecer sua resposta mui esclarecedora. Realmente o Sr. Mário tem uma linha de raciocínio muito fragmentada e confusa, talvez por ele, no ‘bate-rebate’ da discussão, responder os participantes que questionam seus argumentos logo em seguida, acho ser este o motivo da “bagunça giacomelliana”. Realmente faltou a posição dele acerca do seu questionamento, como você bem lembrou. Mas acho que o debate está sendo sabotado pelos próprios participantes do blog que contestam o Sr. Mário. Vou tentar explicar (até onde consegui entender, pois sou um tanto leigo no assunto): enquanto o Sr. Mário, além das tradicionais citações de artigos e referências, discorre, de acordo com os conhecimentos que ele provavelmente possui, explicações técnicas e até visões pessoais sobre as referências, abrindo assim espaço para o debate (novamente concordando que a linha de raciocínio dele é muito ‘truncada’ e ‘complexa’), a grande maioria dos outros participantes, pelo que percebi, estão se limitando a apenas ficarem citando sites e livros, solicitando: acessem o excelente site X ou Y, leiam o ótimo livro Z ou Q, ou o esclarecedor curso W, mas não comentam nem o que eles acharam de interessante nas referências. (ao ponto até, Maurício, de alguns literalmente ‘colarem’ via CTRL+C/CTRL+V frases em Inglês). Fica díficil mesmo qualquer tipo de diálogo. Novamente muito obrigado por esclarecer minhas dúvidas. Valmir.

    Valmir Nunes

    sexta-feira, 19/12/2008 at 10:00

  54. Obrigado pela resposta Maurício.
    Você está mais que certo quando menciona microorganismos. Se Darwin (e Wallace) tivesse tido a oportunidade de acompanhar o comportamento do HIV ou os Mycobacterium da vida, não teria demorado seus vinte e tantos anos (foi isso?) em se decidir.
    Abraço

    roelf

    sexta-feira, 19/12/2008 at 10:21

  55. Mauricio,

    Obrigado pelas respostas!

    Concordo com você quando diz

    “O ponto central da discórdia entre todo o criacionismo e evolucionismo é a seleção natural, ou seja, Deus é desnecessário.”

    Parece-me que a muitos (ateus quando negam e crentes quando afirmam) falta a percepção de que o dado essencial na fé cristã é que Deus é a causa material do universo (e das espécies) e não necessariamente a causa eficiente.

    Lampedusa

    sexta-feira, 19/12/2008 at 14:45

  56. Mas voltando ao tópico do Tuffani, é mesmo uma barbaridade colocar criacionismo nas aulas de ciência do ensino fundamental e médio. Nunca pensei que isso estivesse ocorrendo no Brasil. Recomendo a todos que tenham paciência e leiam o caso Dover que postei no início. Acho que o correto seria questionar legalmente a autonomia que as escolas particulares têm para incluir esses assuntos nas aulas de ciência da sua grade curricular.
    Pelo material que o Tuffani linkou, observei que o grupo Mackenzie, por exemplo, faz o seguinte esquema:
    Crianças de até 8 anos são expostas apenas ao criacionismo.
    Crianças de 11 anos são expostas ao criacionismo e ao evolucionismo.
    Já os universitários do curso de Biologia da mesma instituição recebem apenas conteúdo “evolucionista”, sem ter sequer uma disciplina (nem optativa) sobre criacionismo em qualquer das suas vertentes (a menos que esteja escondido, se alguém encontrar uma palavra de criacionismo ou DI ou TE na grade, me avise; ver aqui a grade curricular do curso de graduação em Biologia http://www.mackenzie.br/ccbs_curriculo.html).
    Caso esta observação esteja correta, cabe questionar por que, se o Instituto está convencido que criacionismo pode conviver nas aulas de ciências do ensino fundamental, o curso de bacharelato e licenciatura em biologia não o estuda profundamente em seus modernos laboratórios? Será que o criacionismo é tão tosco que pode apenas ser apresentado para cérebros infantis, com muito pouca capacidade de questionamento? Quais as conseqüências no sistema de crenças do jovem de ser exposto a teorias criacionistas nessa fase de intenso desenvolvimento cognitivo/cerebral? Quais os professores que “ensinam” criacionismo nas aulas de Ciências? Os licenciados em biologia que forma o Mackenzie parece não estarem preparados para essa função.
    Cada vez estou mais convencido que, como nos estados unidos, o único local possível deste debate é nos tribunais!

    roelf

    sexta-feira, 19/12/2008 at 16:28

  57. Amigo Lampedusa, obrigado pela referência à minha participação. Mas como o Sr. viu, eu também fico por vezes indignado. Eu fiquei surpreso com o fato de escolas religiosas JÁ estarem ensinando criacionismo em aulas de ciência. Meus filhos estudaram por anos em colégios católicos (Salesiano) e isso nunca tinha acontecido por lá. Por isso pensar que era essa a situação geral. Me enganei!!
    Sobre a relação da igreja católica com a evolução (seu comentário 3), bom…, não é beeeem assim? Durante décadas a igreja católica (incluindo os anglicanos) se opôs duramente. Acho que a coisa começou a mudar em 1950 com Pio II quem descreveu a evolução como uma abordagem válida do desenvolvimento humano, argumento reiterado por João Paulo II em 1996. Já com o Ratzinger a coisa estava involuindo (ops!), mas agora parece, pelo menos pelas palavras do arcebispo Gianfranco Ravasi, ministro da Cultura do Vaticano (“Gostaria de reiterar a não incompatibilidade a priori entre as teorias da evolução com a mensagem da Bíblia e da teologia”.) a coisa volta a ficar mais amena. Mesmo por que, comemorando os 150 anos do livro “A origem das espécies” o próprio Vaticano (quem diria!) organizará um congresso internacional sobre o livro e sobre evolução em geral.
    Daqui a pouco, até eu vou virar católico (rsrs).
    Abraço

    roelf

    sexta-feira, 19/12/2008 at 18:09

  58. Obviamente, é Pio XII e não Pio II.

    roelf

    sexta-feira, 19/12/2008 at 18:11

  59. Caro Roelf

    Desconheço manifestações oficiais da Igreja que condenem ou mesmo hostilizem a Teoria da Evolução (desculpe-me a ignorância, mas o que significa a sigla TE em seus posts?). Mas, evidentemente, não me surpreeenderia textos de prelados católicos (mesmo “altos” prelados) pondo em dúvida tal teoria, uma vez que, imagino, esse era o “paradigma” aceito quase que universalmente antes de Darwin (‘mutatis mutandis’ até Einstein poderia ser criticado por descrer ou duvidar de um novo paradigma que se mostrou ‘vencerdor’).

    Sou novo nesse blog e não sei a conveniência ou não de trazer textos longos e – de mais a mais – de não cientistas (naturais). Mas há um texto longo, porém, a meu ver, brilhante, de Ratzinger (penso que da década de 60 ou 70) em que analisa essa questão e de forma absolutamente surpreendente (imagino que indo até mais longe do que poderia supor muitos teóricos da evolução).

    Sinceramente, tenho dificuldade de entender a não aceitação da seleção natural por parte de alguns defensores da DI…

    Bom, se você se tornasse católico seria uma grande alegria! :) Não é, primariamente, o meu intento aqui. É, certamente, reconfortante ter confrades inteligentes e cultos…

    Mas, mesmo que você não se converta, não se esqueça que as diversas Comissões vaticanas aceitam e solicitam pareceres de não-católicos e ateus (Stephen Hawking, por exemplo) sinceros na busca da verdade.

    Abraços,

    Lampedusa

    sexta-feira, 19/12/2008 at 19:17

  60. Amigo Lampedusa.
    Obrigado pelo “inteligentes e cultos” (viggggg! e se não for para mim (rsrs)?). Católico já fui. Depois quase mormom!! E depois espírita!!!
    Bom, TE é Theistic Evolution, defendida pelo Francis Collins (e outros). Acho que a definição da Wikipedia está bem legal http://en.wikipedia.org/wiki/Theistic_Evolution.
    Há também um divertido debate entre Collins e Dawkins aqui http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,1555132-1,00.html
    Seja como for, a TE não tem sobre ela os milhões de dólares em propaganda que tem o DI, por isso é bem menos conhecida.
    Abraço

    roelf

    sexta-feira, 19/12/2008 at 21:43

  61. Glauber, sem pretender te convencer de nada, nem entrar em debate, quem sabe este artigo contribua para tirar alguma dúvida. Se não, (ou se você já leu)joga fora.
    From The Origin of Species to the origin of bacterial flagella (Nature Reviews Microbiology) http://home.planet.nl/~gkorthof/pdf/Pallen_Matzke.pdf
    (anexo apenas porque para você a história do flagelo parece ser vital)

    roelf

    sexta-feira, 19/12/2008 at 22:57

  62. Roelf, vou avançar mais um pouquinho no assunto da relação entre Igreja Católica e teoria da evolução. É curioso notar que Darwin apresentou “A Origem das Espécies” bem no pontificado de Pio IX, um dos papas mais, como poderíamos dizer?, zelosos no que diz respeito à doutrina. Foi o Papa do Syllabus, da declaração da infalibilidade papal… mas se desconhece qualquer pronunciamento seu contrário à evolução, ou apontando incompatibilidades entre Darwin e a fé católica.

    Marcio Antonio

    sexta-feira, 19/12/2008 at 23:05

  63. Pondo a minha colher no meio, penso que a questão que se coloca aqui tem como ponto de partida a compatibilidade de uma posição que não admita, em si mesmo, o criacionismo como critério científico com uma posição que defenda o ensino do criacionismo enquanto compreensão da origem da vida em face do evolucionismo, para o fim de que se tenha conhecimento de tal compreensão. E, neste particular, mesmo não esposando os critérios epistemológicos de Sir Karl R. Popper, tenho plena concordância com o Sr. Maurício Tuffani. Um debate desta natureza, salvo melhor juízo, não é próprio para ser levado à barra dos tribunais, com o respeito devido ao Sr. Roelf, porquanto isto implicaria recorrer à força do Estado para resolver uma questão que está no campo da inteligência, qual seja, uma questão acerca do que seria conhecimento válido ou não. O caso do professor norte-americano processado por ensinar a evolução sob o enfoque de Darwin deveria servir como alerta contra a busca da força (a atividade jurisdicional é chamada atividade de substituição porque tem o objetivo de evitar que os indivíduos façam valer suas próprias razões pela força própria) onde o argumento e a prova estritamente racionais deveriam ter lugar.

    Ricardo Antônio Lucas Camargo

    sábado, 20/12/2008 at 19:15

  64. Em tempo, informo que acessei este blog pelo sítio do Observatório da Imprensa.

    Ricardo Antônio Lucas Camargo

    sábado, 20/12/2008 at 21:36

  65. Pois é, Roelf.

    Concordo plenamente com o advogado Ricardo Camargo. Ele se refere ao chamado “Scopes’ monkey trial”, o julgamento do professor de biologia John Thomas Scopes, em Dayton, no Tennessee, em 1925, que durou 11 dias e foi acompanhado pela imprensa dos EUA (ver http://galileu.globo.com/edic/121/rep_biologia.htm). Após ser mantido preso para aguardar pelo julgamento, ele foi condenado (multa de R$ 100) por ensinar a teoria da evolução em uma escola pública. O caso rendeu a peça de teatro Inherit the Wind, de 1955, e dois filmes com o mesmo nome (http://us.imdb.com/title/tt0053946, de 1960, e http://us.imdb.com/title/tt0196632, de 1999). De fato, tribunais não são alternativa adequada para tratar assuntos relativos ao conhecimento.

    Mauricio Tuffani

    domingo, 21/12/2008 at 9:36

  66. OK, aceito os ótimos argumentos dos colegas, mas vocês me trazem um exemplo muito antigo (1925, é isso aí?). Nem a luta pelos direitos civis em América tinha começado (e o evolucionismo não tinha ainda o volume de evidências que hoje o suportam)! Eu trago então um exemplo bem mais recente, aquele do ensino do criacionismo em sala de aula, o famoso caso Dover (ver acima). Graças aos tribunais tivemos uma resolução que pode criar jurisprudência sobre o assunto.
    Meses atrás tivemos aprovado pela ALESP (volto a lembrar) projeto de lei chamado Deus na Escola, que passaria aos alunos do ensino fundamental e médio o conceito de Deus diluído entre as disciplinas da grade. Imaginemos que o Governador não tivesse vetado (ou imaginemos que o veto seja derrubado pela ALESP) teríamos hoje na escola pública esse monstrengo. Como pai, como eu poderia proceder? Convencer a Diretora crente? Convencer ao professor que todo dia freqüenta a igreja (qualquer uma) que compreenda os enunciados de Popper e Kuhn e volte atrás? Reclamava neste blog? Quando as coisas chegam a esse ponto, não estou muito certo que estejamos conversando sobre “conhecimento”, e sim sobre a imposição para toda a sociedade de agendas que dizem respeito a um grupo. Se o Deus na escola tivesse passado não seria inconstitucional? Cadê o estado laico? Esse não é assunto para os tribunais?
    Abraço aos dois e obrigado.

    roelf

    domingo, 21/12/2008 at 10:46

  67. Ao reler meu comentário notei uma agresividade que não tive intenção de colocar, fundamentalmente quando os comentários do Maurício e do Sr Ricardo foram tão cordiais e bem fundamentados. Peço desculpas por ter passado essa impressão. E repito que concordo com vocês quando comentam que tribunais não são alternativa adequada para tratar assuntos relativos ao conhecimento. Mas ainda acho que este tal vez não seja o caso.

    roelf

    domingo, 21/12/2008 at 11:08

  68. Caro Maurício : se por zelo ou precaução o caso for levado apressadamente aos tribunais sem consulta às partes envolvidas interessadas(alunos, pais, escolas e a sociedade de um modo geral), mesmo a sentença sendo favorável ao Darwinismo em uma determinação judicial, esta “vitória em litígio” não seria em si mesmo uma derrota para a causa Evolucionária, visto que, não se podendo argumentar ou debater, foi necessário o uso da força de um dos 3 poderes do Estado Democrático de Direito?

    Valmir Nunes

    domingo, 21/12/2008 at 13:44

  69. Também em tempo: Maurício, existe alguma frase cunhada em latim parecida com “vencidos vencedores” (ou o inverso) em relação aos romanos e gregos?

    Valmir Nunes

    domingo, 21/12/2008 at 14:05

  70. Caro Roelf,

    Não notei agressividade nenhuma. Pelo contrário, é sensata sua observação sobre as mudanças de pensamentos da sociedade e que a Justiça tende a refleti-las. No entanto, isso pode ser uma faca de dois gumes, pois é possível, por exemplo, uma decisão judicial baseada em uma equivocada perspectiva multiculturalista (não por ser multiculturalista, mas por eventual equívoco) de que “tudo é ciência” e coisas do tipo. Sem falar no politicamente correto. E, justamente por essa possibilidade de influência contextual, a Justiça não é uma boa alternativa. Acho que esta conclusão vai no mesmo sentido do comentário do Valmir, se bem o entendi.

    Abraço,

    Maurício Tuffani

    Mauricio Tuffani

    domingo, 21/12/2008 at 15:57

  71. Ok, prometo não processar ninguém (rsrs) mesmo por que isso é prá lá de caro. Mesmo assim gostaria saber qual o procedimento a adotar caso, por exemplo, algo como o Deus na escola, fosse aprovado. Vejam que aqui não está em jogo uma questão de darwinismo x criacionismo, e sim (acho) um preceito constitucional. Não seria questão de debater evolução (que aí sim, não caberia aos tribunais, claro), e sim a tentativa de questionar o direito de colocar religião na aula de ciência do ensino fundamental e médio, que aliás, acho que foi o assunto inicial deste tópico. Esta questão (da constitucionalidade destas tentativas) foi colocada em editoriais tanto da folha como do estadão quando o assunto estava sendo discutido. O Tuffani deve ter os links por aí.
    Concordo também que pode mesmo ser uma faca de dois gumes mesmo. Como o Maurício coloca vai lá saber o que o Supremo decidiria.
    Bom, e acho que agora feliz Natal a todos!

    roelf

    domingo, 21/12/2008 at 17:00

  72. Não achei, também, nenhuma agressividade no comentário. Mas, de qualquer sorte, o STF já tem pronunciamento contrário à adoção de diploma legislativo que impunha o condicionamento do serviço público escolar ao calendário dos dias de guarda das várias religiões, como consta do voto concorrente do Min. Sepúlveda Pertence na ação direta de inconstitucionalidade 2.806/RS, relatada pelo Min. Ilmar Galvão (RTJ 191:479). Mas ali não se entrou ao mérito do que se ensinaria ou se deixaria de ensinar, diferentemente do que seria a decisão que dissesse “isto se pode ensinar”ou “isto não se pode ensinar”. A decisão sobre o funcionamento da Administração Pública diz com tema de legalidade, ao passo que a liberdade de ensinar constitui direito fundamental, assegurado constitucionalmente. Qualquer que fosse o resultado, não deixaria de ser uma solução de força onde a força não pode ter lugar.

    Ricardo Antônio Lucas Camargo

    domingo, 21/12/2008 at 17:32

  73. Caro Maurício,

    Foi com grata surpresa que descobri o seu blog. O que me foi mais curioso nessa descoberta é que o fiz por uma indicação de um blogueiro que não aprecio, o Reinaldo Azevedo. Na minha opinião, ele “mete os pés pelas mãos” quando se põe a falar sobre ciência e religião. O caso do debate sobre pesquisas de células tronco é emblemático. Na discussão sobre o criacionismo nas escolas, uma vez mais, ele expôs sua inalienável refratariedade a todo argumento razoável.

    Não suporto o discurso criacionista. O que mais me irrita é quando os criacionistas invocam elementos científicos para contestar a evolução, trazendo à tona, sei lá, um bichinho que tem um comportamento que os evolucionistas não conseguem explicar. Até aí tudo bem, é assim mesmo que fazem os cientistas. Mas, quando evolucionistas usam o mesmo princípio científico para contestar o criacionismo, aí os teístas se exasperam e refutam o argumento lógico. Não dá para engulir essa parcialidade, essa falta de coerência.

    Seu blog, seus textos e seus comentários com os leitores são muito ricos e pertinentes. Saliento que a discussão sobre filosofia da ciência é urgente, não apenas entre o público leigo, mas também (e principalmente), no meio científico. Formei-me em medicina na UFMG, depois fiz neurologia e nunca (NUNCA) tive uma palestra sequer sobre as bases filosóficas da ciência. Nunca sequer me foram mencionados nomes como Khun e Popper. Atualmente, faço doutorado em neurociências na França. Digo isso não para jogar confete na própria cabeça, mas para dizer que, mesmo aqui, constato que existe entre pesquisadores consagrados essa lamentável deficiência no que tange o conhecimento sobre a evolução histórica do pensamento científico. Isso é gravíssimo pois, seja na França, nos EUA ou no Brasil, as pessoas passam pela Universidade, alcançam títulos, publicam trabalhos importantes em revistas de destaque, mas são incrivelmente vazias no que diz respeito ao pensamento crítico diante de mistificações, venham de onde vier. Há alguns dias, fiquei assustado quando doutorandas em neurociência (que publicam na Science e na Nature) trocavam conhecimentos e crenças em astrologia, em pleno laboratório de pesquisa. Definitivamente, não é à toa que assistimos a cientistas de renome defendendo com unhas e dentes o criacionismo. Se cursos científicos, como medicina, odontologia, engenharia e tantos outros incluíssem em suas grades uma formação em filosofia da ciência, creio que diminuiríamos o número de diplomados sustentando delírios baseados em mitos primitivos.

    Por isso, seu blog e sua voz são fundamentais. Continue na sua árdua tarefa. Saiba que ela é preemente nos dias que correm. Receba meus entusiasmados parabéns e motivação pela sua batalha.

    Grande abraço,

    Leonardo.

    PS: Se possível, gostaria que você abordasse o argumento da contingência, o qual é discutido por Russel no livro “Por que não sou cristão”. Como sou um leitor esporádico de textos de filosofia, confesso que os argumentos dele não me foram claros. Tenho certeza de que você poderia expor a questão de maneira concisa e didática. Ficaria imensamente agradecido se o assunto fosse tema de um comentário ou de um post. Muito obrigado.

    Leonardo Cruz de Souza

    segunda-feira, 22/12/2008 at 8:38

  74. É realmente complicado esse tema. Se, de um lado, abandono o critério “vontade da maioria” como norteador da política – inclusive para aquilo que afeta a vida e as crenças de todos como o tema em tela – o que colocarei em seu lugar? Digo isso, porque incluo nessa “vontade da maioria” a possiblidade de se alterar a constituição, o que tornaria inócua a via dos tribunais e, simultaneamente, poderíamos ter “absurdos” como ensinar o fixismo como teoria científica se a maioria assim o quiser.

    Lampedusa

    segunda-feira, 22/12/2008 at 10:07

  75. Bom dia Leonardo. Parabéns pelo texto.
    Para você ter uma idéia de quanto concordo contigo, a primeira coisa que meus alunos (iniciação científica, pós) lêem antes de qualquer separata, são os dois primeiro capítulos de “O mundo assombrado pelos demônios”. Estou pensando entregar a todos os alunos de graduação no primeiro dia de aula. Longe de ter a pretensão de um Popper (mesmo de um Medawar, o único Nobel brasileiro (rsrs)), este livro do Carl me emociona profundamente até hoje. Me emociono cada vez que assisto a série Cosmos, na TV Escola. Espero que à tua volta, você consiga dedicar um tempo para transferir à sociedade a beleza do desafio da ciência. Não ta nada fácil.

    roelf

    segunda-feira, 22/12/2008 at 10:53

  76. Maurício,

    Antes de mais nada parabéns pela sua página. Vim pelo Observatório, no qual fiz o seguinte comentário:

    Criacionismo é mitologia, portanto, ensinar isso numa aula de ciências não procede. Como apregoa o Ministério da Educação, pode ser discutido, apenas, nas aulas de religião. As escolas que querem ensinar criacionismo, como ciência, contrapondo com a evolução, na verdade estão querendo colocar dúvidas na “cabecinha” dos alunos, que ainda está em formação. Isto é prejudicial, pois os alunos crescem com a falsa idéia de que aquilo que é passado por uma historinha da bíblia tem algum caráter científico e pode se contrapor, “em pé de igualdade” com a ciência da evolução.

    Antonio Carlos

    segunda-feira, 22/12/2008 at 12:29

  77. Prezado Maurício,

    Ficaram algumas dúvidas com relação a determinadas colocações que você fez no seu texto. Se possível gostaria que você me esclarecesse.

    1- Lá em cima, quando cita o trecho que escreveu para o blog do Marcelo Leite você diz que a premissa de que uma força externa leva ao desenvolvimento da vida não é falseável. Até aí eu concordo. Só não entendi quando você diz que essa premissa seria compatível com o fato da girafa ter pescoço comprido.

    2- Com relação ao final dessa mesma citação, um paradigma não evolucionista, ou seja, qualquer “paradigma” que não aceite o fato da evolução nos remete à idéia da criação e a todas as suas vertentes, como o DI, portanto nunca poderá ser falseável.

    Antonio Carlos

    segunda-feira, 22/12/2008 at 13:56

  78. Prezado Antonio Carlos,

    1) Uma coisa é alguém ser religioso, acreditar que Deus criou e guia o mundo, mas entender que isso não serve como explicação científica. Outra coisa é postular como princípio explicativo para a ciência a existência de uma entidade primeira, inteligente, criadora de tudo e condutora de todos os processos naturais, que poderia nem ser precisamente Deus. Esse princípio inteligente explica qualquer situação, pois ele sempre permite afirmar que foi tudo planejado. Desse modo, o pescoço da girafa é comprido porque assim foi planejado ou seria curto pelo mesmo motivo. Não há como falsear nada que seja dedutível desse princípio, pois tudo o que existe ou acontece acaba sendo atribuído a um planejamento infalível.

    2) Não temos até agora outra alternativa com bases falseáveis além do evolucionismo entendido como fundamentado na seleção natural. Mas não podemos afirmar que outro princípio explicativo falseável (o que não é o caso do criacionismo) nunca será possível. De fato, outra alternativa desse tipo é inconcebível para nós, assim como a possibilidade da relatividade geral era inconcebível no contexto da física newtoniana até o fim do século XIX.

    Mauricio Tuffani

    terça-feira, 23/12/2008 at 4:48

  79. Prezado Maurício,

    Muito obrigado pelos esclarecimentos.

    Antonio Carlos

    terça-feira, 23/12/2008 at 10:27

  80. Novidades sobre o assunto no Estadão de hoje, em matéria cuja fonte é o jornal britânico The Guardian:

    Mais de um quarto dos professores de ciências das escolas públicas da Grã-Bretanha acredita que o criacionismo deveria ser ensinado com a Teoria da Evolução nas escolas, de acordo com uma pesquisa realizada com profissionais do ensino fundamental e médio do país. Foram ouvidos 923 docentes e outros 65% discordaram da inclusão das explicações religiosas para a origem do Universo no currículo escolar.
    Os 29% que se disseram a favor concordaram com a frase apresentada pela pesquisa: “O criacionismo deveria ser ensinado nas aulas de ciências com as teorias do Big Bang e da Evolução.” A maioria dos professores (73%), no entanto, respondeu que o tema poderia ser debatido em sala de aula ao se falar sobre evolução e Big Bang.

    Mais informações em “30% dos docentes ingleses são a favor do criacionismo”.

    Boas Festas a todos.

    Mauricio Tuffani

    quarta-feira, 24/12/2008 at 9:19

  81. Olá Roelf,

    Desculpe-me pela demora em lhe responder. Parabéns pela iniciativa de distribuir os textos de Sagan aos seus alunos. Creio que seria pertinente entregá-los para todos eles. O mundo precisamos!

    Abraço,

    Leonardo

    Leonardo Cruz de Souza

    sábado, 27/12/2008 at 9:52

  82. […] Leia mais deste post no blog de origem: Clique aqui e prestigie o autor […]

  83. […] se tornaram o meio viabilizador para ele. Ninguém espera que essas discussõ Veja o post completo clicando aqui. Post indexado de: […]

  84. […] se tornaram o meio viabilizador para ele. Ninguém espera que essas discussõ Veja o post completo clicando aqui. Post indexado de: […]

  85. […] se tornaram o meio viabilizador para ele. Ninguém espera que essas discussõ Veja o post completo clicando aqui. Post indexado de: […]

  86. Prezado Maurício,
    Somente agora (ainda em tempo) pude ler as mensagens postadas aqui no teu blog. Todas muito interessantes. Devo confessar que sempre admirei muito aqueles que tiveram coragem de estudar filosofia. Preferi seguir um caminho paralelo (empírico), mas considero que a argumentação filosófica é invejável. Felicito os participantes do blog.
    No que se refere à postagem de Valmir Nunes de 18/12 12:07, e outras em seguida, comentando os argumentos de Mario Giacomelli no blog do Marcelo Leite, infelizmente à ocasião daquele debate eu estava por demais ocupado. Não pude colocar meus pontos de vista por razões de tempo. Voltando de férias, decidi elaborar uma réplica aos argumentos e fontes de Mario Giacomelli no meu site (http://www.iqsc.usp.br/pesquisa/qopn/?page_id=117). Sei que é pouco democrático não dar espaço à tréplica, mas não pretendo criar um blog sobre este tema tão polêmico.
    cordialmente a todos
    Roberto Berlinck

    Roberto Berlinck

    sexta-feira, 09/01/2009 at 23:25

  87. Maurício Tuffani, gostaria de dar minha contribuição (ou não, dependendo do seu ponto de vista), e, tendo em mente que seu blog é norteado pela saudável vigilância em relação à mídia jornalística (e com alegria em saber que é filiado ao excelente ‘Observatório da Imprensa’), estou enviando o mesmo comentário que fiz em 08/01/2009 no blog “Ciência em Dia” do colunista Marcelo Leite, da ‘Folha de S. Paulo”, sob o artigo “Criacionismo no Mackenzie” (que ainda não foi publicado, presumo que o Marcelo esteja desfrutando férias. E é uma pena que um assunto importante como esse, e que rendeu cerca de 200 comentários no blog do ML, não continue permanecendo no Link inicial da página científica da ‘Folha On-Line’): Concordo que revistas de cunho científico, como a mensal “Superinteressante!” devem defender o lado racional, científico e naturalista dos artigos pesquisados e publicados. Mas deparei-me com a Edição de Dezembro/2008 sob o título “Quem escreveu a bíblia?”. Na própria capa, os dizeres: ‘Novas EVIDÊNCIAS revelam como os textos sagrados foram escritos – E MANIPULADOS – pelos homens” (estou procurando pelas ‘evidências’ e ‘manipulação’ até a presente data, em que pese a utilização desses termos extremamente asseverativos na capa-propaganda da revista). Pelo visto, a “SuperRichardDawkins!” está cometendo o mesmo erro que o Colégio (confessional) Mackenzie: invadir uma área não-própria para reforçar o ensino defendido e, no caso do periódico em questão, a filosofia editorial. Este comportamento de “descer o sarrafo” (não é a primeira vez que ocorre na “Superinteressante!”) por periódicos científicos em áreas não-científicas (bíblia) para validar seu próprio conceito (pessoal ou editorial) não seria um exagero apelativo, e, por que não, deplorável? E se ocorresse o inverso, com Igrejas desacreditando a Ciência, como nos sentiríamos? Nem a Igreja Cristã da Idade Média critica a visão darwinista científica hoje, muito pelo contrário! Neste caso, vale a pergunta: o compromisso é com a Verdade Científica (arqueológica) ou com a política editorial vigente?

    Tiago Freitas Neves Carvalho

    sábado, 10/01/2009 at 16:53

  88. Talvez eu não conheça de forma correta o programa, mas procurei entrar no site http://www.iqsc.usp.br/pesquisa/qopn/?page_id=117, tentando obter informações sobre esse Mario Giacomelli, porém clicando no link “Réplica às postagens de Mario Giacomelli no blog de Marcelo Leite “Ciência em Dia” sobre a matéria “Criacionismo no Mackenzie”, de 30/11/2008”, não obtive sucesso em abrir o link. É este o biólogo italiano citado aqui, que fez vários comentários no blog do Marcelo Leite?

    Tiago Freitas Neves Carvalho

    sábado, 10/01/2009 at 21:39

  89. […] incluída no que ele quis dizer por “cultivar”, mesmo porque ele … Veja o post completo clicando aqui. Post indexado de: […]

  90. Caro Tiago,
    Exatamente. A réplica às postagens de Mario Giacomelli está no endereço
    http://www.iqsc.usp.br/pesquisa/qopn/?page_id=117
    sendo que a matéria “Criacionismo no Mackenzie” está no link
    http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br/arch2008-11-30_2008-12-06.html#2008_11-30_17_19_32-129493890-25
    no fim da qual estão os comentários, dentre os quais o de Mario Giacomelli.
    Roberto

    Roberto Berlinck

    domingo, 11/01/2009 at 12:04

  91. Maurício Tuffani: É com prazer que freqüento pela primeira vez seu blog. Pelos comentários que li, tanto no blog do colunista Marcelo Leite do ‘Ciência em Dia’ quanto os do ‘Laudas Críticas’, de certa forma acabei, desintencionalmente, polarizando algumas particularidades do assunto cujo foco em questão era o ensino no Colégio Mackenzie.

    Longe de ‘jantar’ outros participantes dos fóruns de debate (como o Valmir mencionou), apenas expus opinião pessoal sobre minha crença em deus, opinião esta que a quase totalidade de meus colegas biólogos não compartilha.

    E desculpe-me por não ter respondido suas indagações no blog do Marcelo Leite, mas foi por falta de estar à altura em replicar questões filosóficas e não pela sua pessoa ter sido ‘indigesta’. Mas penso que você tem razão. Sou um razoável argumentador e um péssimo debatedor.

    Em relação ao link acerca das réplicas aos meus comentários no blog ‘Ciência em Dia’, acho saudável a atitude, posto que mencionei em um de meus comentários ao blog do Marcelo Leite o fato de que “a eliminação das dificuldades e a supressão da crítica é anormal e indesejável na Ciência” (também procurei acessá-las, mas meu computador não abriu o link).

    Enviei alguns posts ao Marcelo Leite mas, como já foi mencionado, provavelmente ele está em recesso. Porém, reproduzirei (com sua permissão) fragmentos dos últimos comentários enviados ao “Ciência em Dia” e que ainda não foram postados pelo colunista da ‘Folha’ :

    (INÍCIO DE PARTES DA TRANSCRIÇÃO):

    “Li, por honestidade acadêmica, o referenciado “The Counter-Creationism Handbook” e os sites acerca das novas experiências à la “Miller-Fox” (leitura esta realizada com mente totalmente aberta), mas lamento informar que não houve um abalo sísmico a ponto de transpôr o enorme abismo entre a sintetização de aminoácidos (ligações peptídeas já foram obtidas desde a década de 50) e a impossibilidade de sintetizar, via Laboratório, quaisquer blocos estruturais um pouco mais complexos, como moléculas e, principalmente, as p-r-o-t-e-í-n-a-s! Gostaria de ler algum livro, ou mesmo site na Net, sobre sintetizações de complexas estruturas moleculares e protéicas, questão esta que eu levantei anteriormente e que tal livro nem resvalou em responder, em que pese sua retórica.”

    “Mas a recíproca é verdadeira: quantos estariam dispostos a lerem as várias referências que mencionei com honestidade intelectual, sem o velho ranço e temor em ver abaladas as respectivas carreiras, graduações e diplomas? Temor, aliás, infundado, visto que aprendi com a idade ‘cinqüentenária’ e tempo de bagagem de exercício da profissão (existem certas regalias não-mensuráveis que só o tempo permite obter) que realizar uma ‘seleção natural’ no que aprendi acerca de Darwin não me fez perder nenhuma bolsa, crédito, emprego ou alteração no padrão de vida (se estes forem os motivos para temor).”

    “Lembrando Darwin e os atuais 150 anos comemorativos de sua prima-obra, quando uma edição centenária, especial, de “A Origem das Espécies”, de Darwin, estava sendo preparada, W. R. Thompson, então diretor do Instituto de Controle Biológico da Comunidade, de Ottawa, Canadá, foi convidado a escrever o prefácio. Nele, declarou: “Como sabemos, há grande divergência de opiniões entre os biólogos, não só quanto às causas da evolução, mas também, até mesmo, sobre o processo em si. Tal divergência existe porque a evidência é insatisfatória, e não permite nenhuma conclusão abalizada. Por conseguinte, é correto e apropriado trazer à atenção do público não-científico os desacordos sobre a evolução.””

    “Sobre a própria definição de conhecimento empírico, isto é, o conhecimento originado na experiência, alguns tem-se perguntado porque sempre referencio um criador, já que, por definição, não há como realizar algum experimento empírico sobre a existência de um criador. Em meados do Século XX, quando cogitou-se a existência de ‘buracos negros’ no Universo, pairava, não um ambiente empírico, mas meras suposições. Nas décadas de 60 e 70, o físico teórico Stephen Hawking ousou e iniciou seu trabalho de pesquisa e, como resultado, descobriu-se que de fato existiam buracos negros e que os mesmos emitiam radiação (agora sim, um modelo epistemológico definido).”

    “Cosmologistas e Físicos Teóricos agora peocupam-se com outras dimensões no Universo e matérias ainda não-mensuráveis, não-convencionais e que poderiam influir na operação do Cosmos. Negariam eles essa oportunidade de descobertas, enquanto ainda não é plenamente possível falsear ou criar para o Cosmos um método de verificação empírica dentro de um conceito epistemológico? Descartariam a possibilidade de pesquisas mais profundas, simplesmente porque ainda não foi comprovada a influência dessas forças físicas? O que ocorreria se cientistas contemporâneos como Stephen Hawking e, principalmente, os cientistas pioneiros da Idade Média e Moderna, não fossem ousados a ponto de quebrar paradigmas vigentes à época?”

    “Não poderia o mesmo raciocínio ser aplicado ao não-empírico / não-falseável criador de um Universo e da vida? Apenas lembrando que a emergência bioquímica da vida a partir do ‘nada’ é uma questão tão de ‘FÉ’ quanto a ‘FÉ’ em um criador.”

    “A possível existência de um criador é uma idéia tão repulsiva e execrável assim? Que obrigação teria um criador em intervir em uma humanidade arrogante que não deseja sua ajuda, visto que acredita ser extremamente culta, independente dele (até avessa à idéia de sua existência), detentora do saber, mas que até hoje não conseguiu resolver suas próprias mazelas no planeta, além de criar novos problemas (vide a ação humana na biosfera em relação às alterações climáticas e o comportamento humano bélico, agora entre judeus e palestinos na Faixa de Gaza); porém, depois jogamos a culpa em deus por tudo de ruim que ocorre no mundo em que vivemos?

    Afirmar que “não existe um criador porque a humanidade está à própria sorte” é uma linha de raciocínio tão ilógica quanto “ajudar uma velhinha a atravessar a rua, mesmo que ela não queira”…”

    (FIM DA TRANSCRIÇÃO).

    Caro Marcio Antonio, agradeço o convite para uma possível entrevista, mas não haveria muito mais a acrescentar ao público além do que já disse no blog do ML. (Ele não me convidou para nada (risos), espero que não o tenha aborrecido); melhor deixar os holofotes para Richard Dawkins e seus discípulos e, no momento, estou na Itália. E sou um tanto recluso também, idiossincrasia minha. De qualquer forma, agradeço o interesse e o convite sincero.

    Atenciosamente,

    Mario B. M. Giacomelli

    Torino, Piemonte – Itália.

    Mario B. M. Giacomelli

    domingo, 11/01/2009 at 19:31

  92. Prezados visitantes,

    Devido a dificuldades de ordem pessoal que se somaram a circunstâncias específicas de meu trabalho (encerramento de uma gestão da Reitoria da Unesp, onde sou assessor-chefe de comunicação da atual equipe e também da próxima), tenho estado nos últimos dias sem tempo para participar dos debates.

    Devo voltar às nossas discussões em breve.

    Agradeço a participação de todos.

    Saudações,

    Maurício Tuffani

    Mauricio Tuffani

    terça-feira, 13/01/2009 at 22:43

  93. A exemplo de outros participantes, procurei entrar no link às “Réplicas a Mario Giacomelli”, mas deve haver alguma trave de segurança, que impede o acesso.
    Utilizando o buscador da Internet para encontrar alternativas de caminhos ao link em questão, deparei-me com a Certificação Lattes do Professor Roberto Berlinck, e realmente é muito impressionante sua carreira acadêmica.

    No caso do Mario Giacomelli, existem mais de 30 páginas com esse nome (deve ser bem comum na Itália) mas não encontrei referências, talvez por ele mesmo ser reservado, como declarou (bloqueando qualquer tentativa de atingir sua privacidade na Web), talvez pela “idade cinqüentenária” dele, ao melhor estilo “pouco me importo com a opinião alheia”, ou então a Europa, que não é um continente injusto no sentido “sócio-econômico-intelectual”, seria avessa a esse tipo de divulgação? Não sei.

    Também navegando no buscador, deparei-me com o blog “Nomenklatura Científica” do mestre em História Enézio E. de Almeida Filho, que com suas ‘Notas Impertinentes’, utiliza um tom cáustico (às vezes com toques de humor) e contundente ao criticar a própria classe acadêmica (crítica inerente aos historiadores, de uma forma geral?).

    Qual a relação entre o site “Nomenklatura Científica”, se eu estava tentado abrir o link de Roberto Berlinck? (Me perdoem a rima…)?

    Deparei-me com o artigo “Berlinck e Varela são contra o livre debate de idéias na universidade” ( http://pos-darwinista.blogspot.com/2008/11/berlinck-e-varela-ufscar-so-contra-o.html ), o que me faz pensar em uma possível tese em Psicologia: “Quanto maior a graduação entre acadêmicos, maior é a ‘fogueira das vaidades’ e a ‘troca mútua de farpas’”?

    Segue trechos do Artigo em questão :

    “A Universidade é o local mais adequado para o debate de idéias, mas Berlinck e Varela (UFSCar) são contra o que temos de mais precioso na Academia: a liberdade de expressão e de discussão de pontos de vistas contrários aos paradigmas vigentes. O artigo de Berlinck e Varela no JC E-Mail pedindo o banimento global da discussão da plausibilidade científica da teoria do Design Inteligente é prova mais do que evidente que a Nomenklatura científica está desesperada e não sabe mais o que fazer, a não ser demonizar e desqualificar seus críticos e oponentes, e chamar a TDI de pseudociência ou equipará-la ao criacionismo. Berlinck e Varela, a Universidade do discurso único coube muito bem na antiga URSS! No dia 14 de fevereiro de 2009 nós iremos celebrar um dia muito diferente do que será celebrado pela Nomenklatura científica: o “Dia da Liberdade Acadêmica”. Nós nos lembraremos da “Proposição Berlinck-Varela” como uma tentativa de amordaçar a discussão das insuficiências epistêmicas fundamentais das atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida, e de novas teorias científicas. Por que Berlinck e Varela têm medo da discussão sobre a teoria do Design Inteligente nas universidades???”

    Estaríamos na iminência de um novo link intitulado “Réplica à Nomenklatura Científica”? A conferir…

    Valmir Nunes

    quinta-feira, 15/01/2009 at 15:40

  94. Como Tiago e o Valmir, tive também (cinco minutos de) curiosidade de me informar em qual laboratório o Sr. Giacomelli trabalha, para assim conhecer as evidências que está produzindo para refutar o evolucionismo da “nomenklatura” científica. Parece se tratar de um biólogo, tão brilhante quanto o Dawkins, mas bem mais modesto e reservado. Seja como for, não achei nada. Seu nome não consta na plataforma Lattes e parece não ter trabalhos científicos indexados na PubMed (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/). Posso ter me enganado, é claro.

    roelf

    sexta-feira, 16/01/2009 at 12:33

  95. Estranho os “posts” do Tiago Carvalho, Mario Giacomelli e Valmir Nunes a respeito das dificuldades em acessar a página com a réplica aos argumentos apresentados por Mario Giacomelli no blog do Marcelo Leite:

    http://www.iqsc.usp.br/pesquisa/qopn/?page_id=117

    Todos aqueles a quem solicitei para verificarem se o link estava ativo e acessível me responderam positivamente. Inclusive o moderador deste blog, Maurício Tuffani.

    A “troca de farpas” entre acadêmicos pode ser de navalhadas, ou apenas cutucadas. Minha opinião é que todos têm o direito (e por vezes o dever) de expressar suas opiniões, sem problemas, principalmente se feita de forma a manter o bom nível das discussões. Não creio que títulos, publicações ou outros dados pessoais sejam importantes para melhor credenciar uma argumentação sobre determinado assunto. O importante é bem fundamentar a argumentação.

    Em particular sobre o post de Mario Giacomelli de 11/01/09 (19:31): sobre seu questionamento no primeiro parágrafo, logo após “(INÍCIO DE PARTES DA TRANSCRIÇÃO):”, indico um número especial da revista científica “Chemistry and Biodiversity” dedicado exclusivamente ao assunto de química pré-biótica (a química de antes do surgimento da vida na Terra). Em particular, o artigo de André Brack, “From Interstellar Amino Acids to Prebiotic Catalytic Peptides: A Review (páginas 665-679)” trata do assunto procurado por Giacomelli.

    No que se refere à síntese de proteínas [moléculas contendo aminoácidos com massa molecular acima de 5.000 unidades de massa atômica (u.m.a.; outra unidade para indicar a massa molecular que qualquer molécula é Daltons, Da)], esta é extremamente complicada em meio aquoso, mesmo em condições laboratoriais “artificiais” (veja-se, por exemplo: Nisanth N. Nair, Eduard Schreiner, and Dominik Marx, Peptide Synthesis in Aqueous Environments: The Role of Extreme Conditions on Amino Acid Activation, Journal of the American Chemical Society, volume 130, páginas 14148-14160, 2008).

    Todavia, no artigo de Brack este relata estudos nos quais se formaram peptídeos (proteínas com massa molecular menor do que 5.000 Da) em meio aquoso e condições pré-bióticas (referências: H. Yanagawa, K. Kojima, M. Ito, N. Handa, Journal of Molecular Evolution, volume 30, página 31, 1990; M. Ito, N. Handa, H. Yanagawa, Journal of Molecular Evolution, volume 31, página 187). Experimentos de síntese pré-biótica na presença de minerais, tais como em argilas, rochas e sedimentos, também foram realizados e levaram à formação de peptídeos com até 56 aminoácidos, ou seja, proteínas (referências: M. Paecht-Horowitz, J. Berger, A. Katchalsky, Nature, volume 228, página 636, 1970; J. T. Warden, J. J. McCullough, R. M. Lemmon, M. Calvin, Journal of Molecular Evolution, volume 4, página 189, 1974; M. Paecht-Horowitz, F. R. Eirich, Origin of Life and Evolution of Biosphere, volume 18, página 359, 1988). O artigo de Brack é uma revisão bastante completa (15 páginas), e inclui tópicos tais como “Prebiotic Production of Amino Acids”, “Prebiotic Condensation of Amino Acids to Peptides”, “Thermostable and Enantioselective Peptides”, “Prebiotic Catalytic Peptides” e “Peptides and Self-Replication”. Infelizmente não conheço livro específico sobre este assunto.

    Sobre o segundo parágrafo de Giacomelli, concordo plenamente que a leitura de textos com idéias alternativas à das teorias vigentes é sempre saudável. Todavia, é importante que se tenha uma boa base de (in)formação para se saber quando textos apresentam idéias e argumentos bem fundamentados, ou não. Atualmente, com a disponibilidade da informação rápida, facilmente acessível, é possível se encontrar qualquer tipo de informação. É necessário ser criterioso o suficiente para que se possa fazer uma leitura crítica de tanta informação disponível. Nestas condições, é melhor buscar boas fontes. Mas como ter certeza que se consulta boas fontes? Neste ponto, também concordo com Giacomelli: nada como a experiência. Vivência e experiência são extremamente importantes no campo de discussão das idéias. Senão cairemos na banalização de idéias e opiniões mal fundamentadas, onde tudo é possível. A este respeito, vale consultar a postagem do “dono do blog”, Maurício Tuffani, sob o título “Pesquise antes de perguntar”:

    https://laudascriticas.wordpress.com/2008/11/19/pesquise-antes-de-perguntar/

    No que se refere ao texto de W. R. Thompson, cabe assinalar que o texto foi escrito entre 1958 e 1959. Desde então, muita pesquisa foi realizada, principalmente com o advento das técnicas de biologia molecular, que deram origem a muitos resultados que corroboram a teoria da evolução por meio da seleção natural de Darwin. Apenas para citar um exemplo, inúmeros experimentos com microrganismos em laboratório demonstraram que estes sofrem adaptações ao ambiente e a diferentes tipos de antibióticos (alguns extremamente potentes) através de mutações, gerando, literalmente, espécies mutadas, que podem ser consideradas como novas espécies (denominadas de “resistentes a antibióticos’, como Staphylococcus aureus resistente à metilicina, por exemplo). Diversos experimentos com macroorganismos também foram realizados. Para citar apenas um, o trabalho de Peter e Rosemary Grant com pássaros das Ilhas Galápagos durante 30 anos (P. R. Grant, “Ecology and evolution of Darwin’s finches”, Princeton University Press, 1986; J. Weiner, “The beak of the finch: a story of evolution in our time”, Alfred A. Knopf editor, 1994), que demonstrou mudanças hereditárias tanto de caráter morfológico como comportamental, e foram relacionadas a mudanças da disponibilidade de sementes utilizadas como alimentos devido a mudanças climáticas.

    Quanto aos dois parágrafos seguintes da postagem de Giacomelli, é bom que se lembre que a ciência não pretende ser dona da verdade. A ciência é uma ferramenta utilizada para descrever e entender fenômenos naturais e resolver problemas (que me desculpem a definição extremamente minimalista). A existência ou não de um criador não é objeto de investigação da ciência. A ciência também não tem como provar a não-existência de um criador. O fato de inúmeros fenômenos ainda não poderem ser explicados pela ciência não torna esta inválida ou pouco eficaz. Na verdade, muito pelo contrário. A ciência se constrói na dúvida, no questionamento, na incerteza. Analisando a ciência em um contexto histórico ao longo de 500 anos, muitos fenômenos antes inexplicáveis foram explicados, inúmeras teorias foram derrubadas por terra, outras foram bastante refinadas e aprimoradas. Para bem e para mal, as artes e a ciência são o maior legado da humanidade. Graças à ciência, exclusivamente, estamos trocando idéias aqui, em um espaço virtual, através de computadores, fruto de muita pesquisa em química, física, eletrônica, ciência da informação, etc., etc., etc. A meu ver, uma das melhores características da ciência é que ela é extremamente autocrítica. Assim, se em qualquer momento da história futura se conseguir evidências sobre um criador, ou de um “design inteligente”, ou de forças desconhecidas que participem efetivamente da organização da matéria e do universo, inevitavelmente a ciência terá que incorporar tais evidências na descrição dos fenômenos naturais. Até agora, porém, tais evidências não existem.

    A frase de Giacomelli “Apenas lembrando que a emergência bioquímica da vida a partir do ‘nada’ é uma questão tão de ‘FÉ’ quanto a ‘FÉ’ em um criador.” pode ser contestada, em se considerando que a emergência bioquímica da vida não é baseada “a partir do nada”. É baseada em princípios químicos e físicos, de comportamento da matéria e da energia (átomos, moléculas, luz, calor, eletricidade, etc.), que fundamentam a elaboração de uma hipótese. Logo, não é fé. Resulta do conhecimento humano acumulado ao longo de aproximadamente 2 séculos, da realização de inúmeros experimentos, da observação da constituição de corpos celestes (como Titã, lua de Saturno, a qual apresenta uma atmosfera muito similar à que se supõe tenha sido a constituição da atmosfera terrestre há cerca de 4,5 bilhões de anos), enfim de muita informação obtida de maneira criteriosa. Tal informação é o elemento chave que fundamenta o melhor quadro possível que se tem para a elaboração de propostas de como a vida surgiu na Terra. No entanto, ninguém é obrigado a aceitar as propostas científicas atuais sobre a origem da vida. Mas, de novo, até que propostas melhores, bem fundamentadas, sejam apresentadas, verificadas e aceitas, estas (as propostas científicas atuais) são as melhores que dispomos para explicar o surgimento da vida na Terra.

    Saudações a todos.
    Roberto Berlinck

    Roberto Berlinck

    sexta-feira, 16/01/2009 at 15:30

  96. Do Prof. Berlinck: Não creio que títulos, publicações ou outros dados pessoais sejam importantes para melhor credenciar uma argumentação sobre determinado assunto. O importante é bem fundamentar a argumentação
    Correto. Mas ajudam a credenciar o argumentador. Em algumas situações (e para determinados públicos) isto pode ser importante. Em outras não.

    roelf

    sábado, 17/01/2009 at 12:16

  97. […] eles envolvem compromissos distintos e diferentes compartilhamentos … Veja o post completo clicando aqui. Post indexado de: […]

  98. Prezados Tiago, Valmir e Mario,

    Verifiquei que havia realmente um problema em acessar a página

    http://www.iqsc.usp.br/pesquisa/qopn/?page_id=117

    com o navegador do Windows, o Internet Explorer. Eu não sabia, pois não utilizo este navegador. O problema já foi sanado. Peço desculpas pelo transtorno.

    Roberto.

    Roberto Berlinck

    terça-feira, 20/01/2009 at 5:36

  99. Só agora consegui ler em detalhes as réplicas do Prof. Roberto Berlinck aos comentários do Sr. Giacomelli. Ótimo material. Parece-me entretanto despropositado que o site do GQOPN inclua, com grande destaque na sua homepage, um link “Réplica às postagens de Mario Giacomelli”.
    Isto confirma o éxito que os DIistas vêm conseguindo em ocupar espaços mesmo em locais sérios como homepages da USP.
    Suspeito que reintroduzir debates criacionistas no ambiente científico, sem evidências que justifiquem, seja mais um retrocesso, com a possibilidade de a própria realização do debate ser utilizada como trunfo pelos criacionistas ante a faltade argumentos sérios.
    Mas é apenas uma suspeita.
    De novo, meus parabéns ao Prof. Berlinck por sua competente argumentação.

    roelf

    terça-feira, 20/01/2009 at 23:50

  100. Muito interessantes e oportunos os argumentos do Prof. Berlinck, referenciados de pesquisadores e cientistas, nas (agora disponíveis) “Réplicas a Mario Giacomelli”. Bem elaborados, com uma linha de raciocínio descomplicada, diferente das do Mario que são por demais fragmentadas. Porém, não saberia dizer se essas réplicas podem ser alçadas à condição de réplica enquanto sua plenitude, pois pude notar que, embora mais de 90% dos argumentos do Sr. Mario foram de fato contestados, algumas pequenas omissões (em refutar certas explanações do Sr. Mario) podem ser notadas em uma releitura, e isso já é base suficiente para ser encaradas como: omissão = não-possibilidade de refutar a totalidade de determinado comentário naquele exato momento (ainda que possa ser deixado em aberto para posterior revisão e complementação das refutações). Nem todas as omissões são devidas a questões de “foro íntimo”, algumas delas realmente poderiam ter tido uma reflexão e/ou contestação, visto que eram de ordem científica, todavia foram ‘deixadas passar em branco’. O que não invalida a bem elaborada réplica, e parabenizo a disponibilização dessa contra-argumentação, quer seja com a colaboração da equipe do IQSC-GQOPN ou apenas do Prof. Berlinck. (o que aumenta ainda mais o mérito daquele que faz as refutações por si próprio).

    Pesquisando na Internet, de fato existe uma Universidade na cidade do Mario Giacomelli chamada “Unito” (UNIVERSITÀ DEGLI STUDI DI TORINO), na Itália, e que possui um departamento de Biologia chamado “DGBB – Dipartimento di Genetica, Biologia e Biochimica”. Resta saber se ele formou-se Ph.D lá, mas tratando-se de um italiano e que mora naquela cidade…

    Gostaria de tecer uma observação à frase : “Suspeito que reintroduzir debates criacionistas no ambiente científico, sem evidências que justifiquem, seja mais um retrocesso, com a possibilidade de a própria realização do debate ser utilizada como trunfo pelos criacionistas ante a falta de argumentos sérios.” FALTA DE EVIDÊNCIAS! Mais um motivo para se permitir um debate ou discussão que necessita de evidências para a sua sobrevivência. O impedimento não seria uma mordaça, a mesma a que o Sr. Enézio refere-se em seu blog “Nomenklatura Científica”? Deixem que os criacionistas celebrem o trunfo, pois, se não resistirem a um debate, como poderão triunfar? Mas, olhando a outra face da moeda, como pode a Evolução triunfar adotando um comportamento quase religioso, dogmático, de tentar “varrer do mapa” a oposição, papel muito bem desempenhado pela Igreja na Idade Média? Até porque ao final a realidade dos fatos (científicos) acabará prevalecendo…

    Não seria uma propaganda ainda maior para a causa Evolucionista permitir um debate e poder expôr o Design Inteligente como não-científico? É uma “oportunidade de ouro” expôr uma corrente de pensamento que não tem sustentabilidade em si mesma, e não creio que algum defensor da Evolução perderia uma oportunidade de desmascarar os mentores do Design Inteligente. Um abraço a todos!

    Valmir Nunes

    quarta-feira, 21/01/2009 at 20:58

  101. Sr. Valmir.
    Antes que dê aqui a impressão que possa eu estar a querer amordaçar alguém, esclareço que minha colocação foi no sentido de não me parecer correto debater cientificamente uma teoria científica em pé de igualdade com outra que não o é. Isto acaba dando legitimidade científica a quem não a tem. Assim, não haveria justificativa para impedir que o DI fosse ensinado lado a lado com a evolução no ensino fundamental e médio, assunto deste tópico. Nada contra que teorias criacionistas sejam estudadas e debatidas em aulas de história, filosofia, sociologia, etc., mas o que foi colocado neste tópico foi sua utilização em aulas de ciência do ensino fundamental e médio. Não podem ser colocadas aí porque não são teorias científicas. Se as debatemos na academia como se fossem ciência, estaríamos confundindo a uma já muito mal informada cidadania. Mas quem sabe seja esta mesma a intenção. Parece-me ingênuo acreditar que este assunto tenha apenas conotações científicas.

    roelf

    sexta-feira, 23/01/2009 at 22:09

  102. Obrigado, Roelf, pelos esclarecimentos. Um abraço.

    Valmir Nunes

    segunda-feira, 26/01/2009 at 18:48

  103. Revendo hoje os exatos 222 comentários no artigo ‘Criacionismo no Mackenzie’ do blog ‘Ciência em Dia’ da ‘Folha’, um deles mencionou que estes estavam polarizados entre “a voz criacionista isolada de Giacomelli x constrangimento dos demais co-debatedores”. Não posso mensurar se tal constrangimento foi forte o suficiente a ponto de polarizar o debate, visto que vários participantes, ao invés de refutar seus argumentos, simplesmente solicitaram censura de seus comentários no blog. Entretanto, o Sr. Mario (e é essa a mediação que gostaria de fazer, com a permissão do Maurício Tuffani, o próprio mediador-proprietário do blog), certo ou errado em suas afirmações, não me pareceu alguém disposto a tumultuar o blog do Marcelo Leite. Ao contrário, pareceu-me uma pessoa bastante sincera ao defender o que pensa. Talvez ele mesmo tenha sido, ao longo de sua carreira, um defensor da Evolução, mas que depois teve de rever todas suas pesquisas por mudança em suas crenças, ou então, tirá-las de circulação e/ou impedir o acesso a elas.

    Se haverá uma “tréplica” ou não, visto que o Sr. Mário provavelmente também teve acesso ao site da USP (curiosidade para isso ele teve) é uma incógnita. Pode ocorrer rapidamente, lentamente, ou talvez nem ocorra. Mas não acredito que ele vá acessar o blog “Nomenklatura Científica”, com argumentos altamente anti-Darwinistas, editar em um computador via CTRL+C / CTRL+V (copiar e colar) e “jogar em nossos colos” pesquisas e refutações “a esmo”. Pareceu-me também uma pessoa bastante meticulosa ao mencionar estatísticas no artigo do Marcelo Leite. Porém (como mencionado nas réplicas do Prof. Berlinck), pecou ao não referenciar ou citar as fontes que possui.

    Finalizando, revendo as réplicas do Prof. Berlinck e os comentários no blog do Marcelo Leite, o Sr. Mario utilizou como residência a cidade de São Carlos (Brasil) e depois Torino (Itália). Também mencionou que passa “a maior parte do ano na Itália”. Pesquisando acerca dessa contradição, a Enciclopédia Eletrônica Wikipedia declara: “Piccola Italia é um título que São Carlos possuiu, porque era assim conhecida na Itália, pela quantidade enorme de italianos que para lá imigraram, e para eles era a América…/…em 1886, São Carlos tinha o segundo maior contingente de imigrantes do Estado e em 1899, segundo o Clube da Lavoura, eram exatos 10.396 colonos italianos. Posteriormente a fama da cidade se espalhou por toda a Itália e milhares de italianos saíam de lá com destino certo, a piccola Italia.” (Fonte : Wikipedia). Talvez ele tenha parentes na cidade de São Carlos e, quem sabe, atenda ao convite do Prof. Berlinck em comparecer ao Instituto de Química na USP a fim de realizar um debate de idéias. Fica o apelo pessoal para que, caso isto ocorra, o convite possa ser estendido ao público não-pertencente à USP, e divulgado nos blogs onde o debate ocorreu.

    Valmir Nunes

    segunda-feira, 26/01/2009 at 23:53

  104. Oi Valmir.
    Acho que teu desejo de ver um debate nesses termos ocorrerá na própria Mackenzie, com participação dos pesos pesados do Instituto Discovery, nosso Maurício Tuffani, e com o Prof. Aldo Mellender de Araújo (IB-UFRS) defendendo o coitado do Darwin.
    As informações estão aqui:
    http://www.mackenzie.br/2_darwinismo_apresentacao.html

    roelf

    quarta-feira, 28/01/2009 at 20:01

  105. […] o ponto que me parece estar sendo deixado de lado pelos defensores do … Veja o post completo clicando aqui. Post indexado de: […]

  106. […] O evolucionismo pode ser alvo de críticas: experimentos e observações podem contestá-lo. Não há mesmo uma absoluta unanimidade entre pesquisadores. Mas, por enquanto, o evolucionismo é a única teoria fundamentada em premissas falseáveis – e só poderemos descartá-la quando houver outra teoria falseável, corroborada por observações, ensina Tuffani. […]

  107. […]       Mas ninguém o fez melhor e com mais propriedade do que Maurício Tuffani, em dois textos( aqui e aqui). […]

  108. […] "boas razões" para deixar de lado algumas refutações. Mas já discutimos isso neste blog (ver "A torre de marfim e o risco de macaquear o evolucionismo", de 15/12/2008, e "O dedo na ferida da razão", de 12/08/2006), e certamente voltaremos a […]

  109. […] no Blog “Laudas Críticas”, de Mauricio Tuffani, editor da revista UNESP CIÊNCIA. Veja aqui). Etiquetado como:ateísmo, ciência, crença, Marcelo Gleiser, […]

  110. […] A torre de marfim e o risco de macaquear o evolucionismo – Maurício Tuffani […]


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